“Vim de Munique de propósito para estar aqui, protesto desde 2014 e hoje é muito importante. Fiz esta figura nessa altura e levo-o sempre comigo para as manifestações, com algumas alterações que vou fazendo”, conta a russa à Lusa, uma de largas centenas de manifestantes que saíram hoje às ruas da capital alemã.
Vive há 33 anos na Baviera, na Alemanha, e acredita que, mais do que nunca, os russos fora do país devem lutar.
“Putin tem de ir embora. Quando ele sair, a guerra termina. Acredito que sem o Putin, e mais um par de idiotas que o acompanham, isto acaba. Ninguém quer esta guerra”, diz, apontando para a mensagem “sou russa, e sou contra a guerra”.
A marcha “anti-guerra”, convocada pela oposição russa no exílio, liderada por Yulia Navalnaya, viúva de Alexsei Navalny, mistura cores das bandeiras russa e ucraniana e mensagens de diferentes ativistas e associações. O principal opositor do presidente russo, Navalny, morreu em fevereiro deste ano na prisão “Lobo Polar”, no Ártico, onde cumpria uma pena de três décadas.
“A marcha tem como objetivo reunir todos aqueles que se opõem à guerra de Vladimir Putin na Ucrânia e à repressão política na Rússia”, revelaram os organizadores em comunicado, acrescentando que o protesto exige a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia, a demissão de Putin e o seu julgamento como “criminoso de guerra”.
Ao som dos gritos “Não à guerra” ou “Rússia sem Putin”, a marcha segue em direção à embaixada da Rússia em Berlim. O protesto é liderado por Navalnaya, Ilya Yashin – um antigo deputado municipal de Moscovo recentemente libertado da prisão – e Vladimir Kara-Murza, um crítico do Kremlin que sobreviveu à prisão e a duas tentativas de envenenamento.
Mais concretamente, este protesto exige a “retirada imediata” das tropas russas da Ucrânia, a demissão de Vladimir Putin e o seu julgamento como “criminoso de guerra” e a libertação de todos os presos políticos detidos na Rússia.
Os organizadores estimam que cerca de duas mil pessoas participem nesta marcha.
Vladimir traz um cartão pintado à mão com soldados a verde e uma mensagem em russo.
“Peço que as pessoas apoiem os russos desertores que abandonam o seu país porque não querem lutar. Quanto mais as pessoas mostrarem o seu apoio, menos soldados terão de combater, e menos gente morrerá. Acho que é lógico”, explica o russo a viver há 10 anos na Alemanha.
“Estamos aqui para mostrar à Alemanha e ao mundo que nem todos os russos são pró-Putin e pró-guerra. Muitos russos querem liberdade e paz, que se pare de matar ucranianos, e que Putin seja afastado do poder de uma vez por todas”, destaca.
O jovem, acompanhado da namorada, admite estar cauteloso em relação ao futuro com Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos.
“Pode ser que sim, que seja diferente. Se calhar a guerra terá de ser terminada de uma forma mais negativa daquela que gostaríamos, mas mesmo assim, preferimos que termine já”, assume, não escondendo o desejo de voltar para o seu país logo que possível.
“Quero muito voltar para a Rússia, mas sei que não posso. Se o fizer vou imediatamente preso”, lamenta.
O poder russo erradicou metodicamente toda a dissidência nos últimos anos, colocando centenas, até milhares, de pessoas atrás das grades e tornando impossível qualquer ação de protesto.
A oposição, que perdeu a sua figura de proa, Navalny, que morreu em fevereiro em circunstâncias obscuras na prisão, está privada de meios para agir na Rússia e, portanto, forçada a relançar o movimento a partir do estrangeiro.
Outro dos motivos desta marcha anti-guerra é a libertação imediata de todos os presos políticos detidos na Rússia, razão que trouxe Ross ao centro de Berlim.
“Queremos mostrar a nossa solidariedade com os prisioneiros que estão na Rússia. Viemos mostrar o nosso apoio, não apenas aos russos que estão no nosso país, como também aos que estão fora e que não apoiam a guerra”, admite.
Veio para a Alemanha há dois anos por causa da guerra. Todos os seus familiares já tinham saído do país, ele foi o último.
“Pode ser que as coisas com Trump mudem, que haja novas negociações. Ainda assim, não acredito que seja agora, numa altura em que as coisas no cenário de guerra não estão a correr bem para a Ucrânia. Talvez quando a Rússia esteja mais pressionada, possa haver diálogo”, assume.
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