“Nos 50 anos do 25 de Abril, Portugal despede-se da mulher que pôs os cravos na revolução. Nesta hora de luto, deixo uma palavra de reconhecimento a Celeste Caeiro”, escreveu o primeiro-ministro na rede social X.
Celeste Caeiro morreu hoje, aos 92 anos, no Hospital de Leiria, disse à agência Lusa a neta, Carolina Caeiro Fontela, lamentando que nunca tenha sido homenageada em vida.
Também na rede social X, o PCP manifestou “profundo pesar” pela morte de “Celeste dos Cravos”: “Militante Comunista, mulher trabalhadora, de convicções fortes, a camarada Celeste enfrentou uma vida de dificuldades com perseverança. A sua generosidade e afabilidade ficará na memória de todos”.
Na mesma plataforma, em reação à morte de Celeste Caeiro, o partido Livre lembrou “a mulher que transformou a Revolução de Abril na Revolução dos Cravos, ao oferecer aos militares uma flor como símbolo de paz e esperança”.
Em abril passado, por ocasião das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, Celeste Caeiro e a neta, ambas residentes em Alcobaça, esclareceram à Lusa as lacunas da história dos cravos e da revolução.
“Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista”, disse a neta à Lusa, lembrando que Celeste trabalhava num ‘self-service’ no edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa.
Com a mãe e uma filha de 5 anos a seu cargo e a viver numa “casa humilde, sem rádio e sem televisão”, só quando chegou ao emprego, no dia 25 de Abril de 1974, é que Celeste soube que estava a haver uma revolução.
Nesse dia, o ‘self-service’, que completava um ano, não iria abrir portas e o patrão, “que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um”.
Celeste pegou no seu ramo de cravos – “vermelhos e brancos” – e rumou ao Rossio para ver “o que há tanto tempo esperava que acontecesse”. Foi aí que perguntou a um soldado o que estavam ali a fazer e se precisava de alguma coisa.
O soldado, “de quem nunca soube a identidade, fez sinal de que queria um cigarro” e Celeste, que sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo, que o militar colocou no cano da arma e que acabaria por ser o símbolo da revolução.
No passado dia 25 de abril, na sessão solene das comemorações dos 50 anos da revolução, o deputado do Livre e historiador Rui Tavares pediu que o parlamento homenageasse as mulheres do país através de uma estátua de Celeste Caeiro, que saiu com uma braçada de cravos no dia 25.
Por proposta do PCP, a Câmara de Lisboa aprovou por unanimidade, no dia 07 de maio, homenagear-se Celeste Caeiro com a atribuição da medalha de honra da cidade de Lisboa e a realização de uma “intervenção evocativa, a ser implantada num espaço público”, o que ainda não aconteceu.
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