A exposição ‘Mais do que casas: Como vamos habitar em abril de 2074’, que estará patente no Museu do Design (MUDE) até 19 de janeiro de 2025, procurou soluções para fazer face não só à atual crise na habitação, mas também às mudanças climáticas e tecnológicas.
Ao todo, foram 1.751 estudantes e 281 docentes de 25 cursos de faculdades de Arquitetura, Arquitetura Paisagista e Belas Artes de todo o país, que apresentaram cerca de 60 propostas para tentar responder ao desafio de “como enfrentar a crise habitacional, adaptando cidades e territórios ao contexto económico e social, a mudanças climáticas e tecnológicas?”
A exposição é organizada pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto (FAUP) em parceria com o MUDE — Museu do Design e decorre de um programa académico mais vasto que a FAUP promoveu para celebrar os 50 anos da Revolução de Abril de 1974, criando um espaço de união e debate entre estudantes e docentes das instituições de ensino superior daquelas três áreas académicas.
“O programa nasce da coincidência da aproximação dos 50 anos do 25 de Abril e, por outro lado, da perceção do problema da habitação que voltava a surgir 50 anos após o 25 de abril e que tinha sido já um dos temas principais do pós 25 de abril, de resolver o problema da habitação”, explicou aos jornalistas um dos curadores, o arquiteto Luís Tavares.
A perspetiva dos organizadores foi a de abrir esta reflexão ao universo académico de arquitetura, paisagismo e belas-artes para em conjunto celebrar este momento.
“No pós 25 de Abril, a academia também teve um papel importante, o clima revolucionário, em que as escolas foram encerradas e foram criadas as brigadas do Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), juntaram-se arquitetos para, em conjunto com as populações, darem resposta aos problemas de habitação”, acrescentou.
A arquiteta Teresa Novais, a outra curadora da exposição, alertou para a importância de pensar como fazer uma cidade inclusiva, atendendo à diversidade social que existe, aos grandes problemas de hoje, à necessidade de dar voz a todos e promover direito à cidade.
“Pode-se fazer muitas casas, mas se mandarem as pessoas para fora dos sítios onde vivem, se elas não puderem participar nessas decisões, poderemos falhar nesta missão. Juntamente com as casas têm de vir os apoios comunitários, os apoios de cozinha, os transportes, as escolas”, complementou.
Para a curadora, “devia aprender-se com o que falhou e ter novos paradigmas, de como é construída a sociedade”, pelo que foi criado um manifesto, que coloca todas essas questões.
Foi feito o desafio às escolas, dividido em oito questões que conduziram a exposição: Como pensar a cidade inclusiva; Como habitar territórios de baixa densidade; Como desbloquear inovação de modelos de habitação; Como dar resposta à crise da habitação; Como promover habitação sustentável; Como aplicar a participação dos cidadãos; Como adaptar a cidade às alterações climáticas; Como operacionalizar os avanços tecnológicos.
Ao longo da galeria do piso 2 do MUDE, estão dispostas plantas e maquetas que projetam áreas habitacionais que procuram dar resposta a estas questões, uma das quais propõe — para responder à primeira questão, que é “um dos problemas mais críticos” — a construção de casas em espaços muito compactos, explica a arquiteta, acrescentando que mais espaços de sombra e espaço público é uma constante em todos os projetos.
Dois dos projetos que os curadores destacaram foram elaborados pelo Departamento de Arquitetura da Universidade de Coimbra, e ensaiam novas tipologias de habitação para Pombal e Coimbra.
O primeiro propõe um habitat colaborativo, evolutivo e flexível, com base em “espaços-volantes” adaptáveis às mutações da vida familiar, permitindo ir acrescentando módulos à casa, que possam servir como uma nova divisão.
O segundo articula, numa mesma unidade residencial, o habitat jovem, destinado a estudantes, e o habitat sénior, com os necessários serviços de apoio.
A recuperação de edifícios existentes também foi pensada, nomeadamente num projeto que aborda o bairro da Cumeada, em Coimbra, mais especificamente um colégio e quatro pavilhões de tipologia industrial, um programa que engloba células de habitação com tipologias variadas, acessos comuns e a gestão sustentável da água, vegetação e energia.
Outro projeto arquitetónico apresentado repensa o bairro da Biquinha, em Matosinhos, que tem uma superfície impermeável superior a dois terços da área total, propondo “despavimentar o bairro” para permitir a plantação, a infiltração, a produção de oxigénio, a despoluição, a descontaminação e a biodiversidade.
Há uma proposta para a ilha do Pico, nos Açores, que propõe a criação de dois equipamentos públicos que proporcionem um espaço de encontro, para dinamizar a vida comunitária, aproveitando uma área industrial caracterizada por vários vazios urbanos.
Para a zona de Alcântara há propostas de naturalização, para trazer a água para a superfície, e no Algarve propõe-se retomar os matagais do barrocal algarvio.
Pensando nos jovens de hoje e nos quartos de estudantes onde habitam, cada vez mais multifunções, foi pensado um modelo que replica as Repúblicas de estudantes, com unidades mais pequenas, que funcionam em autogestão e com um responsável, em rotatividade.
Este projeto quer responder ao diminuto número de camas hoje disponíveis para os estudantes em Coimbra, propondo ocupar, com cinco novas Repúblicas, um vasto vazio verde urbano situado na Arregaça.
À entrada para a exposição, encontra-se uma instalação, que replica uma outra realizada nos jardins da FAUP em abril de 2024, e que consiste num conjunto de andaimes, com materiais têxteis, que criam um espaço habitacional.
As plataformas dos andaimes servem como que de prateleiras para guardar caixas e objetos, de bancada para pequenos equipamentos de cozinha, e de cama, com colchões, almofada e candeeiro.
Nessa instalação que ocupou os jardins da FAUP durante duas semanas, habitaram estudantes, que ali comiam, dormiam, ouviam música e recebiam visitas, que muitas vezes ficavam para jantar e para conversar principalmente sobre a habitação e o papel do arquiteto, contou Frederico Caetano, o estudante autor do projeto.
A exposição conta com um programa paralelo que irá desenvolver-se ao longo da sua abertura ao público, incluindo visitas orientadas pelos curadores e convidados, apresentações e debates que irão decorrer no auditório do Museu ou num espaço contíguo à própria mostra.
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