Vera Jourová termina hoje uma visita de dois dias a Portugal, no âmbito da sua “digressão pela democracia”, onde tem encontros marcados com entidades nacionais e responsáveis institucionais portugueses.

Questionada sobre o facto da desinformação ser eficaz numa altura em que as pessoas obtêm a informação de maneira superficial, Jourová afirma que “o maior desafio é a desinformação que se baseia na inteligência artificial ou utiliza a inteligência artificial”.

“Ainda há alguns anos vi campanhas de desinformação reais e direcionadas a serem produzidas por pessoas reais, pelo exército de ‘trolls’ em São Petersburgo,” refere, mas a tecnologia desenvolveu-se bastante desde então.

Agora, “é tão fácil usar a IA não só para produzi-lo, para produzir os efeitos, mas também para divulgá-lo pelo espaço digital” e as pessoas estão a ser impactadas, lendo e vendo desinformação a uma “velocidade luz” e “é isso que eu temo”, admite Vera Jourová, que não se vai recandidatar a um novo mandato na Comissão Europeia.

E é “aqui que tentamos impedir isso, é por isso que apreciei que os atores digitais das maiores plataformas tenham assinado um compromisso de que irão detetar proativamente a produção de IA/’deepfakes'” e que estas serão rotuladas e removidas, sublinha.

“Acho que veremos muito isso ou ouviremos sobre casos de ‘deepfakes’ sendo removidas 10 dias antes das eleições” europeias, prevê a vice-presidente da Comissão Europeia.

Instada a comentar como a tecnologia pode ser muito criativa a contornar barreiras, Vera Jourová sublinha que ainda se trata de “criatividade humana”, embora muito em breve preveja que a IA deixe de precisar de pessoas para o fazer.

“Não quero parecer apocalíptica, mas a desinformação espalhada pela IA é algo que realmente temo e algo que ainda podemos resolver com um forte compromisso dos tecnólogos – eles são os únicos que têm uma hipótese de impedir isso” -, uma vez que são eles que estão a desenvolver a tecnologia de inteligência artificial para detetar imediatamente a produção de IA.

“Esqueça, os seres humanos já não o conseguem fazer mais”, daí a importância do seu papel, prossegue, referindo que recebeu um “forte compromisso” dos partidos políticos de que “irão resistir à tentação de usar ‘deepfakes’ em campanhas políticas”.

“Pedi aos partidos europeus que também pedissem aos partidos políticos nacionais que realizassem campanhas decentes e não manipuladoras. Sou ingénua? Espero que não, mas gostaria de fazer, ainda no atual mandato na Comissão, algures em setembro, uma avaliação olhando para trás”, partilha.

E aí “veremos se vale a pena jogar” de maneira justa, mas isso só “saberemos” em outubro.

Instada a comentar as declarações do professor catedrático do IST Arlindo Oliveira, em entrevista recente à Lusa, que afirmou ter menos medo da eficácia da desinformação do que da ineficácia da informação, uma vez que atualmente é mais difícil fazer as pessoas mudarem de opinião, a vice-presidente da Comissão Europeia para os Valores e Transparência salienta ser “muito apropriado dizê-lo”.

“Os dados dizem-nos que não é altura de subestimar a desinformação e a interferência estrangeira”, aponta.

Vera Jourová esteve na Letónia esta semana, perto da fronteira russa: “Imagine ter um terço da população de língua russa, uma incrível pressão e o ataque permanente ao espaço de informação por parte da Rússia”.

Uma das “tendências perigosas é que, quanto menor a confiança [nos media], maior o número de leitores de todas as notícias que se espalham pelas plataformas ‘online’, que são exatamente o lugar, a autoestrada para os conteúdos problemáticos, prejudiciais e manipuladores”, sublinha.

“Tenho sempre uma mensagem para os media tradicionais: têm que aparecer onde têm leitores” e isso, além da digitalização, inclui ainda “algum tipo de novas sinergias com a IA”.

Já que, “caso contrário, não sobreviverão”, remata.

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