“Neste momento, está a haver uma reprogramação do PEPAC [Plano Estratégico da Política Agrícola Comum] e, em nossa opinião, nas várias reformas ao longo destes últimos anos, a pecuária extensiva tem sido esquecida”, disse Rui Garrido, responsável da associação, sediada em Beja.
O presidente da ACOS, que falava à agência Lusa à margem do Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva, que arrancou hoje em Ourique, no distrito de Beja, argumentou que os governos de Portugal e de Espanha “não têm tratado [este setor] da melhor forma”.
“A pecuária extensiva tem sido um pouco esquecida. Não se tem falado muito daquilo que é a pecuária extensiva, está muito associada ao interior e, portanto, tem sido um parente pobre” e têm “faltado apoios”, considerou.
Nas reformas da Política Agrícola Comum, ao longo dos anos, o que “os governos de ambos os países têm feito” para ajudar esta área “tem ficado aquém daquilo que eram as necessidades do setor”.
Por isso, este congresso luso-espanhol, que decorre de dois em dois anos, de um lado e de outro da fronteira, é importante para abordar temas comuns à pecuária extensiva e para dar mais força ao setor, realçou Rui Garrido.
“Havendo aqui uma ponderação, uma discussão em conjunto deste tema, e uma vez que estamos a reprogramar o PEPAC, teremos muito mais peso em conjunto, nos sentido de até inclusivamente termos, para Portugal e Espanha, medidas e apoios semelhantes” a outras áreas, defendeu.
O Congresso Luso-Espanhol de Pecuária Extensiva, que vai na 4.ª edição e junta em Ourique mais de 300 participantes, termina na sexta-feira e é organizado pela ACOS, União dos Agrupamentos de Defesa Sanitária do Alentejo, Cooperativas Agroalimentares de Espanha e Federação dos Agrupamentos de Defesa Sanitária Ganadeira (FADSG).
Em declarações à Lusa, Agustín González, da cooperativa agropecuária espanhola OVIPOR, corroborou que a pecuária extensiva “tem sido o setor mais esquecido” da agricultura, a nível europeu.
“Há setores intensivos como o olival, os cereais, o arroz ou o tomate que têm recebido muitas e grandes ajudas. Não digo que não tenham de receber ajudas”, mas “o que os produtores pecuários recebem, em especial os do extensivo, não é suficiente para rentabilizar as explorações e, se não há rentabilidade, não pode haver renovação geracional”, argumentou o dirigente espanhol.
A sustentabilidade e a renovação geracional são, precisamente, o tema central desta edição do congresso, que aborda também outros assuntos, como a sanidade animal ou a PAC.
O presidente da ACOS defendeu que é preciso haver “muita vontade política” para criar “condições para que os jovens venham e fiquem” na agricultura, nomeadamente ao nível da cultura, do acesso à saúde, das novas tecnologias e mesmo “novas medidas que tenham efeitos fiscais atrativos”.
“Se isto continuar a ser encarado numa perspetiva muito economicista, por exemplo, fecha-se uma escola porque não há gente, fecha-se uma linha [de caminho-de-ferro] porque não há gente, nunca mais lá vamos”, afirmou.
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