‘História Natural do Livro’ é o título desta coleção de livros informativos que a Pato Lógico inicia este mês, para ajudar a compor o retrato “de quem cria, produz e divulga livros para crianças e jovens” em Portugal, afirmou à agência Lusa o editor e autor André Letria.
Os primeiros volumes são dedicados a dois nomes fundamentais da literatura para os mais novos – Alice Vieira e António Torrado — e têm formatos idênticos: Uma entrevista central, depoimentos de outras pessoas e fotografias dos protagonistas, dos livros que escreveu, objetos e espaços de trabalho.
‘Alice Vieira — Não é preciso explicar tudo’ tem textos da mediadora de leitura e subcomissária do Plano Nacional de Leitura, Andreia Brites, enquanto ‘António Torrado — Correr atrás do tempo’ é assinado pela autora e divulgadora Inês Fonseca Santos; ambos têm fotografia de Luís Mileu.
“Alice Vieira e Torrado são incontornáveis. A coleção começa com dois escritores, mas temos outras pessoas e projetos em curso”, disse André Letria, citando livros que estão a ser preparados sobre a fundadora da editora Orfeu Negro, Carla Oliveira, sobre o desenhador António Jorge Gonçalves e sobre o projeto editorial Planeta Tangerina.
“Este conjunto parece uma boa amostra do que queremos que a coleção seja”, rematou André Letria.
Em ‘Não vale a pena explicar tudo’, Alice Vieira, hoje com 81 anos, recorda como aplicou a limpidez de escrita do jornalismo à ficção dos livros para jovens, a partir de “‘Rosa, minha irmã Rosa’ (1979), detalha episódios de encontros com leitores, da colaboração com tradutores, e explica os temas subjacentes a muitas das histórias que escreveu.
O livro de Inês Fonseca Santos resultou de uma entrevista feita nos últimos meses de vida de António Torrado (1939-2021), e nele o escritor revela que gostava de deixar um livro de “memórias do passado, para um hipotético futuro”, possivelmente intitulado ‘Antes que me esqueça’.
André Letria esclarece que esta coleção não é só sobre quem escreve ou ilustra. Pretende também dar a conhecer quem trata do design, quem imprime, que trata dos processos criativos e dos técnicos, quem programa em festivais, quem os divulga.
“Falta-nos uma prática da memória, da publicação de documentos que sirvam para registar aquilo que as pessoas pensam para além do que deixam escritos. Estes livros servem como esse testemunho deixado pelos próprios. […] Estes livros acabam por servir para que se complete a imagem das pessoas retratadas em todas estas dimensões, em cada título”, resumiu André Letria.
Na abertura do livro dedicado a Alice Vieira lê-se que “são as pessoas que dão forma e sentido aos livros. Para que os livros aconteçam, é preciso um pequeno universo: Quem escreva, quem desenhe e pagine, quem ilustre, quem edite, quem imprima, quem divulgue e venda, quem leia e até quem critique”.
A apresentação dos dois primeiros volumes de ‘História Natural do Livro’ está marcada para terça-feira na Biblioteca de Alcântara, em Lisboa.
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