Em jogo estão os 165 lugares da Assembleia Nacional para um mandato de cinco anos, ao qual concorrem 41 partidos e coligações.
As eleições foram antecipadas porque Bassirou Diomaye Faye dissolveu o parlamento em 12 de setembro passado, invocando dificuldades de colaboração com a assembleia liderada pela oposição.
As anteriores eleições legislativas realizaram-se em julho de 2022 e, de acordo com a Constituição senegalesa, os chefes de Estado podem dissolver a Assembleia Nacional após dois anos da eleição do parlamento, um prazo que foi atingido em 12 de setembro.
Na base da dissolução do parlamento está a tentativa do Presidente e do primeiro-ministro alcançarem uma maioria parlamentar que permita ao partido Patriotas do Trabalho, da Ética e da Fraternidade (Pastef), liderado por Sonko e que esteve na base da eleição de Diomaye Faye, por em prática profundas reformas na governação, na justiça e nas instituições legislativas.
Na anterior Assembleia Nacional o Pastef tinha apenas 23 lugares e o objetivo é executar uma verdadeira transformação política no país, mantendo a dinâmica de mudança que levou Diomaye Faye a derrotar logo na primeira volta Amadou Ba, o candidato escolhido por Macky Sall, que estava impossibilitado pela Constituição de concorrer a um terceiro mandato.
A polarização no Senegal coloca o Pastef contra a coligação da oposição Takku Wallu Senegal (Defender o Senegal, em wolof), uma aliança entre a Aliança para a República (APR), de Macky Sall, e o Partido Democrático Senegalês (PDS), fundado pelo seu antecessor na chefia do Estado, Abdoulaye Wade.
As outras formações concorrentes com possibilidade de se intrometerem na luta política são a coligação Jàmm Ak Jariñ (Paz e Prosperidade), liderado pelo antigo primeiro-ministro Amadou Ba, e a coligação Samm Sa Kaddu (Manter a palavra), liderada por Barthélémy Dias, presidente da Câmara de Dacar.
As ambiciosas reformas políticas e económicas que Faye e Sonko querem aplicar no Senegal centram-se numa menor dependência externa.
Diomaye Faye defende, por exemplo, a saída do Senegal do franco CFA, uma moeda controversa criada em 1945 pela França (ex-potência colonial) e utilizada em 14 países da África Ocidental — entre os quais a vizinha lusófona Guiné-Bissau -, bem como a renegociação dos contratos de hidrocarbonetos com as multinacionais.
Além disso, defende uma renovação institucional completa com medidas como a abolição do cargo de primeiro-ministro e a criação de uma vice-presidência, o que exigiria uma reforma constitucional e teria de ser aprovado pela Assembleia Nacional.
Quase oito meses após a sua inesperada eleição, os senegaleses continuam à espera que Diomaye Faye e o seu combativo primeiro-ministro Sonko cumpram as muitas expectativas de uma população muito jovem, muitos dos quais lutam diariamente para encontrar trabalho e fazer face às despesas.
O desemprego e a inflação continuam muito elevados, o crescimento abrandou e os novos dirigentes afirmam que os cofres secaram, acusando Macky Sall e os seus governos de má governação e gastos não justificados.
Desde a sua entrada em funções, as autoridades baixaram o preço do arroz, do petróleo e do açúcar e lançaram amplas auditorias, tendo apresentado um plano de transformação da economia e das políticas públicas para os próximos 25 anos.
A oposição acusa-os de inação, amadorismo e sede de ajuste de contas.
Ousmane Sonko insiste que os antigos dirigentes, a começar pelo antigo Presidente Macky Sall, terão de responder perante a justiça pela crise dos últimos anos e pela sua gestão das contas.
Acresce que centenas de senegaleses continuam a partir todos os meses para a Europa em canoas e dezenas morreram no oceano Atlântico este ano.
Após anos de tensão, as legislativas de domingo são uma oportunidade para o país voltar a ser considerado um oásis de estabilidade e democracia numa África Ocidental marcada por sucessivos golpes de Estado.
Todavia, a campanha eleitoral está a ser extremamente combativa e marcada por atos de violência opondo militantes do Pastef e da oposição.
As lideranças políticas escalaram a violência verbal e Sonko chegou mesmo a apelar à “retaliação” e “vingança” pelos ataques dirigidos aos seus apoiantes.
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