José Rodrigues dos Santos acaba de lançar ‘O Protocolo Caos’, o novo romance que coloca o protagonista Tomás Noronha a desmascarar as ligações de Trump a Putin.
A história é inspirada em factos reais e aborda temas como as ‘fake news’, o poder das redes sociais na manipulação da população, ataques informáticos e ‘hackers’. Donald Trump e Vladimir Putin são personagens chave na trama deste que é o 26.º romance do autor.
O Notícias ao Minuto entrevistou José Rodrigues dos Santos, através de email, a propósito deste lançamento, do peso da realidade na construção das suas histórias, do resultado das eleições presidenciais norte-americanas e da importância da Inteligência Artificial no futuro próximo.
Para quê inventar quando a realidade é tão rica em histórias e temas para a literatura?
‘O Protocolo Caos’ centra-se em factos reais muito atuais. Diz-se que, por vezes, a realidade supera a ficção. É essa a razão pela qual se costuma basear em factos reais para a construção das suas histórias?
Para quê inventar quando a realidade é tão rica em histórias e temas para a literatura? Para mim, a verdadeira força da ficção está na sua capacidade de, usando a mentira, pois a ficção é um produto da imaginação, dizer coisas profundamente verdadeiras. A realidade é a matéria-prima da ficção e o meu esforço é o de explicar o mundo através dos romances. ‘O Protocolo Caos’ é um exemplo.
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A trama foca-se bastante na premissa de que Trump é um agente russo, a data de publicação foi escolhida propositadamente para ser próxima das eleições norte-americanas?
O livro investiga a estranha relação de Donald Trump com Vladimir Putin e exprime as convicções dominantes dos serviços de informação ocidentais. Usa fontes da CIA, do FBI, da NSA, do Congresso e de ex-agentes de serviços de informação. A ligação de Trump à Rússia constitui um enormíssimo perigo para o Ocidente, como ‘O Protocolo Caos’ amplamente mostra. Que as eleições americanas tenham ocorrido agora não passa de coincidência. Publico todos os meus romances em outubro, como é bem sabido, e não fazia sentido alterar a data de publicação só por causa das eleições americanas.
Todos os autores fazem, normalmente, um grande trabalho de pesquisa para a criação das suas obras. Por ser jornalista, considera essa fase da criação mais fácil?
A minha investigação é mais académica do que jornalística. Não se esqueça de que lecionei durante 25 anos na Universidade Nova de Lisboa. A minha faceta de jornalista revela-se, não na pesquisa, mas na forma como escrevo, procurando ser transparente, claro e direto.
Os ‘deep fakes’ já foram usados, aliás, nesta campanha eleitoral dos Estados Unidos, e de forma maliciosaAo longo do romance, o tema da Inteligência Artificial, sobretudo os ‘deep fakes’, é muito abordado. Considera que esta é uma das ‘armas’ mais poderosas e perigosas da atualidade?
Pode ter a certeza. Os ‘deep fakes’ já foram usados, aliás, nesta campanha eleitoral dos Estados Unidos, e de forma maliciosa. São um grande perigo, pois vão colocar-nos numa posição em que não seremos capazes de destrinçar a verdade da mentira.
Deveríamos, enquanto sociedade, apostar mais na literacia digital por forma a nos protegermos de todos os possíveis ‘fakes’ (‘deep fakes’, ‘fake news’,…)?
É urgente que as pessoas entendam os perigos de manipulação das redes sociais pelos regimes ditatoriais, como a Rússia e a China, e também pelos seus cavalos de Tróia no Ocidente, um dos quais é, na minha opinião, Trump. As ditaduras e esses cavalos de Tróia estão a usar as redes sociais e a Inteligência Artificial para destruir o nosso mundo. Uma das nossas armas de defesa é começarmos a compreender como o fazem. Foi também por isso que escrevi ‘O Protocolo Caos’.
Sendo Trump e Putin tão mencionados em ‘O Protocolo Caos’ é inevitável pedir-lhe um breve comentário sobre o resultado das eleições presidenciais norte-americanas e que futuro prevê para os Estados Unidos, mas também para o impacto no resto do mundo.
Para responder a essa pergunta, vou limitar-me a citar Christopher Steele, o ex-operacional do MI6 em Moscovo: “Putin está agora desesperado por ter Trump de volta à Casa Branca. Se tiver sucesso no seu esforço de ajudar a reeleger Trump, estou convencido de que a ordem política global mudará totalmente. Entraremos numa nova era histórica de caos estratégico, uma ‘nova desordem mundial’. As consequências de Trump vencer as eleições de 2024 são catastróficas’.”
A personagem Tomás Noronha é um protagonista recorrente nas suas obras, como caracteriza a sua evolução desde o primeiro livro até agora? Quando a criou pensou que o Tomás o iria acompanhar por tanto tempo?
Não, nunca pensei. O Tomás nasceu para uma única aventura, ‘O Codex 632’. Mas depois ganhou vida própria e… ei-lo agora a desmascarar as ligações de Trump a Putin.
Por ser uma figura tão mediática e por ter uma carreira literária de grande sucesso, o José sente algum tipo de pressão sempre que escreve um novo livro?
A pressão que sinto é a de dar o máximo em cada livro, em reinventar-me a cada romance, em nunca me repetir. Para um escritor, essa é uma das coisas mais difíceis de fazer.
Como leitor, a sua preferência recai também para os ‘thrillers’?
A minha preferência é escrever romances que me digam coisas verdadeiras sobre o nosso mundo, sejam ‘thrillers’, romances históricos, histórias de espionagem, romances clássicos. Quando vejo um filme, a coisa que mais gosto é quando aparece escrito no início: baseado em factos reais. Significa que me vou entreter e, ao mesmo tempo, vou aprender. São esses romances que gosto de escrever.
Sem liberdade não há literatura Existe alguma temática que queira abordar numa obra, mas que por algum motivo ainda não o tenha feito, seja ela mais histórica ou mais contemporânea?
Sem liberdade não há literatura. Toco nos mais variados e inconvenientes temas, não importa quais. A única condição é que sejam verdadeiros.
No dia 26 de outubro foi-lhe atribuída a Medalha Cultural da Cidade de Lisboa, será esta a maior honra de entre todos os prémios nacionais que já recebeu?
A maior honra e o maior prémio são-me dados pelos leitores quando leem os meus livros. Os romances não existem para receberem prémios, mas para serem lidos. De qualquer modo, naturalmente que me senti imensamente honrado.
© Planeta
No dia 23 de novembro o autor vai apresentar ‘O Protocolo Caos’ no Norte do país. O lançamento está marcado para as 19 horas, na Fnac NorteShopping.
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