“As imagens das cheias em Valência parecia algo apocalíptico, muito semelhante a uma guerra. A sensação que tive é que estava num país do terceiro Mundo e não estava no séc. XXI. Fiquei com a sensação de que não estava a ver imagens da Europa.
As pessoas perderam tudo, não têm nada. A resposta do Estado foi uma vergonha.
Compreendo a raiva e a frustração de muitas pessoas devido à situação difícil que passaram e estão a passar. Protestar, sim, mas atirar lama e tentar agressões físicas não é aceitável.
Este protesto não foi de direita ou de esquerda foi um grito de raiva contra a forma como foi gerida esta calamidade, quer pelo governo nacional de Espanha de Pedro Sánchez, quer pelo governo regional da comunidade Valenciana de Carlos Mazón.
A evolução da limpeza, salvação de vidas e resgate de mortos foi muito lenta e continua morosa.
Os cidadãos não têm de compreender todos os mecanismos para resolver esta catástrofe, têm é que ver o Estado a ajudar e ver progressos em tudo que se passa à sua volta e nas suas casas.
O Rei Filipe VI e a Rainha Letícia quiseram ver in loco e ouvir os protestos para aquilatarem do estado de espírito daquela gente. Sánchez também foi, mas levou por tabela e foi o primeiro a abandonar a rua.
O Rei esteve muito bem com coragem, não fugiu procurou ouvir e explicar a emergência e dar esperança.
Os espanhóis nos protestos não são para brincadeiras e não querem políticos a tirar fotos, mas querem políticos que trabalhem e que resolvam os problemas.
A sociedade civil com os voluntários deu uma lição do que se deve fazer. Houve um enorme desconforto acumulado por uma população que se sentiu abandonada pelo Estado.
As autoridades desvalorizaram o efeito destas cheias antes e depois.
Estas cheias são uma verdadeira catástrofe em que há muita pólvora: número de mortos; incerteza dos desaparecidos; polémica sobre os alertas; gestão na resolução desta crise.
O desespero apoderou-se naturalmente dos valencianos.
O Rei e a Rainha saíram-se bem, Sánchez e Mazón saíram-se mal.”
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