A investigação, publicada na revista científica Science, desvenda “o mistério das cores dos papagaios”, afirma o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (BIOPOLIS-CIBIO) da Universidade do Porto.
Apesar de serem apreciados pela sua cor e inteligência, os cientistas desconheciam como é que a palete de cores dos papagaios era criada.
“Isto é um grande mistério tanto para cientistas como para amantes de aves, e isto é importante para uma questão central na biologia, nomeadamente como é que a diversidade surge na natureza”, questiona, citado no comunicado, o coordenador do estudo e investigador do BIOPOLIS-CIBIO, Miguel Carneiro.
Para responder a esta questão, os investigadores demonstraram inicialmente que, em diferentes espécies de papagaio, a cor vermelha e amarela eram “sempre geradas por dois tipos de pigmentos únicos entre as aves”.
Posteriormente, focaram-se numa espécie em que os indivíduos amarelos e vermelhos coexistem na natureza, algo considerado “muito raro”.
“Apesar de o lóri-sombrio ser nativo das florestas da Papua-Nova Guiné, tivemos ajuda de criadores de aves certificados em Portugal para estudar a genética desta espécie”, acrescenta Pedro Miguel Araújo, investigador do MARE no Departamento de Ciências da Vida da Universidade de Coimbra.
Ainda que muitas aves tenham penas amarelas e vermelhas, os papagaios fazem-no recorrendo a pigmentos únicos, intitulados psitacofulvinas.
“Estas aves combinam estes e outros pigmentos para criar cores brilhantes como amarelos, vermelhos e verdes, tornando-os dos animais mais coloridos na natureza”, afirma Roberto Arbore, investigador do BIOPOLIS-CIBIO.
Os investigadores desvendaram também que apenas uma proteína é responsável pelas diferenças de cor nos lóri-sombrios, “um tipo de aldeído desidrogenase (ALDH)”.
“As penas dos papagaios como que pedem esta proteína emprestada, usando-a para transformar psitacofulvinas vermelhas em amarelas. Este mecanismo funciona como regulador de luz ao contrário, no sentido em que maior atividade desta proteína resulta numa cor vermelha menos intensa”, indica Soraia Barbosa, também investigadora do BIOPOLIS-CIBIO.
Para estudar este mecanismo, a equipa debruçou-se sobre um papagaio mais familiar — o periquito-australiano — para perceber como é que as células das penas ligam ou desligam genes diferentes durante a formação de cada pena.
Tal permitiu concluir que apenas um conjunto reduzido de células é responsável por toda a mudança de cor nas penas.
A equipa criou ainda leveduras geneticamente modificadas, que “começaram a produzir cores de papagaio, o que demonstra que este gene é suficiente para explicar a forma como os papagaios controlam a quantidade de amarelo e vermelho nas suas penas”, acrescenta Roberto Arbore.
“Agora temos uma melhor compreensão em como estas cores incríveis evoluem em animais selvagens via um simples mecanismo de regulação que utiliza uma proteína de desintoxicação para servir um novo propósito”, refere Miguel Carneiro.
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