Tiquetaque. O fim do ano aproxima-se e com ele um fardo para as famílias no crédito à habitação. O dinheiro vai ficar mais caro depois de há cerca de uma semana o Banco Central Europeu (BCE) ter anunciado mais uma subida das taxas de juro de meio ponto, situando-se agora nos 2,5%.
Uma decisão que até já era esperada e considerada inevitável. O que foi surpreendente, e não exatamente para o melhor, foi a toda-poderosa Christine Lagarde anunciar que iria haver aumentos contínuos da mesma natureza. A presidente do BCE antecipou que as taxas aumentarão significativamente ao ritmo de meio ponto adicional já em janeiro e fevereiro. Um impacto que irá alastrar a toda a economia portuguesa e que prejudicará a recuperação económica que tanto apregoa António Costa. O que está mesmo no horizonte, apesar da bonomia e do irritante otimismo do primeiro-ministro, é Portugal passar para uma recessão técnica caso não sejam tomadas já medidas preventivas. E não estamos a falar do apoio de 240 euros às famílias mais debilitadas.
À luz de outras recessões, uma corrida louca ao aumento dos juros pode matar-nos antes da cura e se as taxas atingirem os sugeridos 3,5%, a Euribor – a taxa de referência das transações bancárias, principalmente dos créditos à habitação – poderá subir até aos 5%, o pior nível desde 2008 e que tanto contribuiu para o desastre financeiro, económico, social e laboral. O pior é que, até agora, a receita não está a funcionar. O próprio BCE reconheceu que os aumentos das taxas, por si só, não levaram a uma redução geral dos preços e do custo de vida. A inflação deveu-se sobretudo a fatores sobre os quais o efeito da política monetária é muito relativo, como o aumento da energia, devido à guerra na Ucrânia, e o consequente aumento dos preços dos alimentos. Esta reviravolta do discurso de Lagarde vem acompanhada de desculpas contraditórias com a retórica anterior, quando demarcava o ciclo europeu do norte-americano. Agora, garante que o BCE tem de ir “mais longe” que os americanos, justamente quando do outro lado do oceano se desaceleram as subidas das taxas de juro. Enquanto isso, vamos apertando o cinto.
*Editor-executivo