Quando os colegas do filho, que cresceu e começa a sair do ninho, não correspondem às expectativas, é natural os pais ficarem inseguros e apreensivos em relação ao futuro. Mas tentar afastar, controlar, fazer críticas destrutivas ou proibições excessivas não é o caminho.
Rita (nome fictício) sabe exatamente qual foi o ponto de viragem, numa memória que ainda lhe custa visitar toldada pela culpa. “O meu filho até ao 6.º ano foi um menino impecável. Entretanto, azar o meu, cismei que a escola onde ele estava ficava ao pé de um bairro e decidi mudá-lo de escola.” Foi aí que, numa mistura explosiva com a adolescência, o grupo de amigos mudava e Pedro também. “Foi introduzido numa turma de repetentes, um miúdo com notas de 4 e 5 perdeu-se, achava tudo o que os amigos faziam fascinante. E eram só disparates, fumavam, consumiam drogas leves, saíam à noite, metiam-se em pancadaria.” Pedro chumbou logo nesse ano e foi o início de uma luta dos pais, constantemente chamados à escola, para o desviarem das “más companhias”. “Chegaram a dizer-me que ele não tinha futuro, que era um terrorista”, conta Rita.
A mãe partilhava com ele as preocupações, longas conversas que quase sempre batiam na trave da idade típica do armário. “Tentava explicar-lhe o porquê de achar que os amigos eram más companhias. E, para que ele ficasse mais por casa, permitia que ele trouxesse os amigos de que eu não gostava. Foi uma fase horrível, era uma dor insuportável, porque queria o meu filho bem, como é óbvio.” Na angústia de estar a perder o controlo, Rita chegava a rondar os sítios que o filho frequentava, a esperar que ele entrasse dentro dos portões da escola para evitar que faltasse às aulas e chegou até a vê-lo sair de ambulância da escola, “porque tinha estado a fumar e estava a sentir-se mal”. Pedro, que sempre jogou futebol, ainda fazia de tudo para não ser convocado para os jogos para poder sair na noite anterior com os amigos.