A Fundação de Serralves, no Porto, recebe em junho uma grande exposição de Alexander Calder, que aborda a amizade com Miró, e uma mostra pensada por Dan Graham, o artista visual dos EUA desaparecido em 2022. Mas há mais para ver. E a nova ala do museu abrirá antes do verão.
A programação anual, apresentada esta quarta-feira, abre com a primeira mostra antológica da portuguesa Carla Filipe, em março, que levou o diretor do Museu de Arte Contemporânea, Philipe Vergne, a realçar que a instituição pretende ser uma “plataforma” para que artistas nacionais apresentem o seu trabalho.
Ao longo de 2023, Serralves vai acolher exposições da dupla Allora & Calzadilla, sediada em Puerto Rico, nos EUA, no que será também a primeira mostra retrospetiva dos artistas que vão dar aos visitantes “uma perceção do que é americano que não é uma América tão conhecida na Europa”, salientou Vergne.
A dupla pratica um estilo artístico que o diretor do museu definiu como “arte como denunciante”, dando como exemplo a peça “Hope Hippo”, estreada na Bienal de Veneza de 2005: a estátua de um hipopótamo, sobre a qual uma pessoa estará sentada durante todo o dia, a ler um jornal, soprando um apito sempre que lê uma notícia sobre corrupção.
Para além de mostras do fotógrafo português António Júlio Duarte, da canadiana Kapwani Kiwanga e da indiana Dayanita Singh, Serralves vai receber o colombiano Oscar Murillo, com o seu projeto “Frequencies”, que leva às escolas dos locais onde expõe telas em branco para que os alunos as possam preencher ao longo de meses, reciclando-as e reaproveitando-as para as exposições que faz.
Alexander Calder e a amizade com Miró em junho
Um dos principais destaques do ano em Serralves vai para uma exposição do norte-americano Alexander Calder (1898-1976), no Parque e na Casa, sendo construída “uma exposição em torno da amizade criativa que existiu entre Calder e Miró”.
Philippe Vergne disse que foi negociada com o Centro Pompidou, em Paris, a vinda de grande parte da coleção daquele museu da autoria de Calder, que raras vezes saiu da instituição francesa, tratando-se do que considera um “golpe” ter a possibilidade de a apresentar no Porto. A exposição vai intitular-se “Uma linha em equilíbrio” e estará patente em Serralves de junho a dezembro.
O diretor do museu contou, na apresentação aos jornalistas, que havia abordado Dan Graham (1942-2022) para ser curador de uma exposição sobre arquitetura, algo que o artista ainda chegou a preparar antes de morrer, no ano passado.
“Vai abranger uma muito oblíqua, mas importante história da arquitetura pós-moderna”, afirmou Vergne sobre “A arquitetura segundo Dan Graham”, que vai estar em Serralves entre outubro de 2023 e abril de 2024.
A exposição vai reunir “o trabalho de oito arquitetos que Graham considerava particularmente significativos: Atelier Bow Wow, Lina Bo Bardi, Itzuko Hasegawa, Anne Tyng, Johannes Duiker, Sverre Fehn, Kazuo Shinohara e João Batista Vilanova Atrigas”, segundo o plano de atividades do museu.
Nova ala do museu abre antes no verão
Nas artes performativas, Serralves – que este ano assinala o centenário do seu Parque – continua a receber o ciclo Vera Mantero, um projeto colaborativo entre CAConrad, Odete e Caty Olive, assim como uma homenagem a Mika Vainio, entre outras iniciativas.
Como já havia sido anunciado pelo ministro da Cultura, aquando da aquisição da coleção BPP pelo Estado, Serralves vai abrir a exposição “Ao cuidado de…”, com a antiga coleção do Banco Privado Português (BPP), agora na íntegra em depósito na fundação.
A presidente da Fundação de Serralves, Ana Pinho, realçou que a abertura da nova ala do museu, cuja conclusão está prevista para antes do verão, com a inauguração a acontecer entre setembro e outubro, vai permitir ter um espaço para expor em permanência a sua coleção.
“Um museu não é um museu sem uma coleção, é a alma de um museu”, disse Pinho, realçando que o que não existia vai passar a existir, abrindo a possibilidade de “captar novos arquivos, novos depósitos, através de novas doações”.
Para a nova ala está já prevista a exposição “Histórias anagramáticas”, que vai colocar “em relação e diálogo as várias coleções e arquivos que constituem a Coleção de Serralves num percurso não linear pela arte dos últimos 60 anos”, indicou o comunicado hoje divulgado.
Está ainda programada a exposição “Museu-Musa”, sobre o trabalho do arquiteto Álvaro Siza para museus e a sua evolução.
Questionada sobre a assinatura do protocolo com a Fundação EDP e o porquê da demora, Ana Pinho respondeu não ter novidades, lembrando que o que foi anunciado, em novembro de 2021, foi um memorando de entendimento entre as duas entidades e que o processo segue o seu percurso “normal” de negociação.