Avó que é avó festeja como se fosse ela a finalista. Foi a partir de uma varanda, na Rua de Camões, que Maria Joaquina Gomes e Maria Oliveira, de 87 e 91 anos, respetivamente, viveram a emoção e euforia do Cortejo da Queima das Fitas do Porto, onde a celebração não teve idade.
“É um orgulho muito grande. Não podia estar mais feliz”, partilhou Maria Joaquina Gomes, avó de Carlota, finalista de Medicina, enquanto observava a diversão dos milhares de estudantes. Até elas dançaram. E, como elas, Justino Quaresma também viveu o momento com intensidade. Com 56 anos, está no 3.º ano de Serviço Social. “Já que estou aqui vou viver tudo”, garantiu o estudante, apelidado de “papi” pelos colegas de curso. A integração foi fácil: “Tenho um espírito jovem e dou-me com toda a gente”.
Para o ano, é a vez de Justino de cartolar. “A licenciatura chega aos 56, mas nunca é tarde”, sublinhou Justino, acrescentando que o curso é um investimento na área onde já trabalha “desde miúdo”. Foi escuteiro, trabalha na Cruz Vermelha e está na equipa de proteção de comportamentos de risco nas noites do Queimódromo.
Ao lado do carro do curso de Mecânica, do Instituto Superior de Engenharia do Porto, não se diferenciavam os caloiros dos doutores. A substituir o traje, havia fatos de macaco, que os estudantes assinavam. “É uma tradição do curso. No dia de hoje, não há diferenças entre as hierarquias”. “Nem para o Aníbal”, um macaco de peluche que é a mascote do curso e que também estava vestido a rigor.
“Na primeira fila”
Milhares de pessoas fizeram questão de guardar lugar na primeira fila para ver de perto os alunos. António e Albertina Martinho partiram de Sabugal, na Guarda, há quatro dias para acompanhar o filho Tiago, finalista de Gestão de Marketing, na Universidade da Maia (UMAIA), em todos os eventos da Queima das Fitas. “É um misto de emoções. Estou muito feliz por estar acompanhado da minha família e amigos”, partilhou Tiago, enquanto a mãe estava em lágrimas.
No meio da festa, Rodrigo Beleza, de 10 anos, via a mãe festejar a conclusão da terceira licenciatura, desta vez em Direito. “Filho da mamã finalista”, podia ler-se na camisola de Rodrigo, que se entretinha a brincar com a cartola e a bengala da mãe.
“Estou muito entusiasmada por estar aqui com o meu filho, para que ele um dia também viva esta sensação”, disse Sónia Resende.
Sentimento a dobrar
O orgulho também se sentia nas palavras entre Lurdes Pinto e a filha Ana Rita Pinto, no último ano de Solicitadoria na UMAIA. O encanto de Lurdes pela vida académica “vem de há muitos anos”. Estudou até ao 9º ano, mas nunca teve a oportunidade de continuar. Por esse motivo, o sentimento era a dobrar: “Era um sonho meu. A Ana Rita é filha única e tinha um desejo muito grande de a ver licenciada. E conseguiu. Aliás, conseguimos”, exprimiu a mãe.
Nem só os finalistas tinham o apoio das famílias na multidão. Bernardo Bastos entrou este ano na Faculdade de Engenharia da Universidade Porto. A irmã, Beatriz Bastos, não conseguiu esconder a nostalgia: “Eu já estive no lugar dele e agora trocamos os papéis. É um orgulho”.
“é Divertido”
Mas para marcar o passo do cortejo é preciso pessoas como Luís Cunha, condutor do carro alegórico do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS).
“É um serviço como os outros. É divertido”, explicou o homem, camionista há 15 anos e que participou no cortejo pela segunda vez.
No desfile estiveram 43 carros, o que obrigou a uma organização antecipada. “Entre ir buscar as estruturas e vir para a Praça da República, foi tudo organizado e à vez”, disse o condutor.
No café “A Africana”, na Rua de Camões, vivia-se “um entra e sai constante”, mesmo com venda “ao postigo” feita numa das portas. “A procura no dia de hoje triplica. Tanto em bebida como em comida”, referiu Valéria Costa, filha do dono do estabelecimento.