Mais de cem pessoas foram acusadas dos crimes de burla qualificada, acesso ilegítimo, falsidade informática, falsificação de documento e branqueamento de capitais. A rede subtraiu mais de 1,2 milhões de euros graças a esquemas de “smishing” e “vishing”.
O esquema fraudulento terá sido montado por sete arguidos, um dos quais residente no Brasil. Entre outubro de 2019 e abril de 2021, conseguiram aceder a, pelo menos, 210 contas de sete bancos portugueses, tendo retirado ilicitamente das mesmas 1 288 143 euros.
Os criminosos começavam por enviar milhares de SMS fingindo que eram emitidas pelos bancos. Diziam que havia uma anomalia com o acesso ao homebanking e pediam aos titulares das contas para acederem à página do banco através da hiperligação indicada. Todavia, a ligação conduzia a uma página simulada.
Nessa página falsa, as vítimas eram solicitadas a introduzir os seus códigos de acesso e contactos. Na posse destas informações, os burlões acediam às contas dos ofendidos, viam os saldos e preparavam operações para retirar o máximo de dinheiro possível.
Fingiam cancelar operação fraudulenta
Para confirmar as transferências, necessitavam dos códigos de autentificação enviados aos verdadeiros titulares das contas. Então, ligavam para as vítimas e diziam que eram funcionários do banco. Explicavam que tinham detetado uma operação fraudulenta e que precisavam dos códigos enviados para a cancelar. Julgando estar a bloquear a operação, os titulares das contas acabavam por dar aos burlões os dados para que estes confirmassem as transferências fraudulentas.
O dinheiro sacado tinha como destino as contas de outros arguidos também acusados que, mediamente um pagamento, aceitavam atuar como mulas de dinheiro. Logo após a concretização das transferências, alguns dos arguidos iam com as “mulas” fazer o levantamento do dinheiro recebido ou comprar divisas estrangeiras em agências de câmbio.
101 acusados em mais de 200 inquéritos
O Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal deduziu agora acusação contra 101 arguidos, três dos quais em prisão preventiva. Além dos mais de 1,2 milhões de euros subtraídos, os arguidos ainda tentaram subtrair, sem sucesso, mais 226 mil euros.
O processo agrega mais de 200 inquéritos instaurados em todas as comarcas do país que foram apensados. No âmbito da investigação realizada, em que o Ministério Público foi coadjuvado pela UNC3T da Polícia Judiciária, foram realizadas cerca de 30 buscas domiciliárias, incluindo uma no Brasil, tendo-se apreendido bens móveis e imóveis, incluindo saldos de contas bancárias, no valor total de 663 380,43 euros, do qual 171 734,48 euros foram já devolvidos aos ofendidos.
Aquando da acusação foi ainda efetuada a liquidação do património de seis dos arguidos acusados e, por se ter apurado incongruência entre o património de cada um e os seus rendimentos lícitos, foi deduzido pedido de perda ampliada no valor global de 751 671,63 euros.