Ana Luísa Sequeira, professora contratada há 22 anos, levou um cravo vermelho para uma manifestação que este sábado à tarde, cobriu por completo os cerca de 650 metros do tabuleiro da ponte Eiffel de Viana do Castelo.
O protesto, que formou um cordão humano de lés-a-lés na travessia, dinamizado pela Coordenação de Greve “23 – Viana do Castelo, juntou cerca de um milhar de manifestantes, segundo a organização. “Criar Pontes na Educação”, foi o mote da ação em que a docente de Biologia e Geologia, Ana Luísa, fez questão de marcar presença. Mais uma vez, neste ano letivo.
“Trouxe o cravo porque tem a ver com a falta de liberdade que este Governo nos está a impor”, explicou, referindo que tem “andado em manifestações”, por que “gostava que o Governo olhasse para a precariedade dos contratados”.
“Sou contactada há 22 anos e continuo cada vez pior em relação ao ano em que fiz estágio. Andamos com a casa às costas e, infelizmente, nesta situação que supostamente foi negociada e em que não houve negociação nenhuma, pioramos ainda mais”, comentou, acrescentando: “Já estive deslocada muitas vezes. O sítio mais longe de casa que estive foi a 200 quilómetros. O Governo muda as regras todos os anos e já chega. Se não houver alterações, vou deixar o ensino”.
Um dos passeios da ponte Eiffel de Viana do Castelo, onde foi colocada uma tarja a dizer “Todos juntos pela escola pública de qualidade”, depressa encheu, após as concentrações que estavam marcadas, para as 15.30 horas, nos dois extremos.
Em fila indiana os professores, vindos dos dois lados, uniram-se a meio formando um cordão humano, sob apitadelas de apoio de alguns automobilistas.
“Há duas lutas e dois momentos. Há uma que é sindical e que está a ser feita pelos sindicatos, junto com o Governo, as negociações, que agora acabaram, mas hão-de retomar. E depois há outra luta e, se calhar nesse lado, que este evento ocorre”, indicou César Brito da Coordenação de Greve “23 – Viana do Castelo, sublinhando que “é a luta pela escola pública e pelo seu futuro”.
“Há um outro debate que é extensivo à sociedade portuguesa. Queremos ou não escola pública? Que escola pública queremos? Fazer de conta que a temos e depois não lhe dar os meios necessários, é brincar e enganar”, disse.
Tarjas, cartazes e mais cravos vermelhos, serviram para assinalar o descontentamento dos docentes presentes no protesto deste sábado, no tabuleiro da ponte sobre o rio Lima.
“Todos os motivos [da luta] são urgentes. Convinha que o nosso tempo de serviço nos fosse restituído. Os colegas vincularem mais perto de casa e depois tudo viriam por acréscimo”, afirmou Ana Almeida, professora do Ensino Especial há cerca de 30 anos, e que disse nunca ter assistido a “uma luta tão grande” dos professores. “Estávamos sempre à espera que cumprissem as promessas, mas agora já não é uma questão política. É uma questão humana”, resumiu.
Rosa Máximo, coordenadora distrital do Sindicato de Professores da Zona Norte (SPZN) em Viana do Castelo, juntou-se aos lamentos de Ana Almeida. “Temos um ministro [da Educação] a querer mexer com todos os quadrantes, desde concurso, condições de trabalho, de aposentação, etc. Quando o professor estava na escola e só tinha a componente lectiva, era feliz”, referiu, acrescentando: “Agora o professor está absorvido de trabalhos, papéis e muita burocracia. O professor não está feliz na escola. E não estão os alunos”.