No dia em que os governos de Espanha, França e Portugal se reúnem em Alicante para discutir o gasoduto submarino que ligará Barcelona a Marselha, as organizações não-governamentais de ambiente (ONGA) ZERO (Portugal), Ecologistas en Acción (Espanha) e Deutsche Umwelthilfe (Alemanha) criticam este projeto por acreditarem que é um “claro revés na transição energética da UE, com sérios riscos de se tornarem investimentos irrecuperáveis e de desviar recursos necessários para satisfazer o que devia ser o verdadeiro objetivo energético da Europa”.
O denominado gasoduto BarMar é um dos elementos do novo Corredor de Energia “Verde”, anunciado em outubro, e visa complementar as ligações por gasoduto entre Portugal e Espanha, concretamente entre Celorico da Beira e Zamora (gasoduto CelZa).
Pretensão questionável
A Zero anunciou, em comunicado, que as ONGA acreditam que o projeto está a ser desenvolvido “sob pretensões ambientais questionáveis”, explicando que, apesar de as ligações irem servir para o transporte exclusivo de hidrogénio no futuro, numa primeira fase e sob o pretexto da crise energética, servirão para transportar gás fóssil. Defendem ainda que os estudos preliminares existentes mostram que não é o hidrogénio, mas sim a eletricidade para o produzir, que deve ser transportada, ao contrário do que o projeto pretende fazer.
Além disso, alertam que os custos totais dos gasodutos BarMar e CelZa estão ainda por determinar, assegurando que esta é uma “decisão sem a mínima base técnica e económica”.
Defendem também que este plano, que será concluído por volta de 2030, é incongruente com o objetivo de redução de gás fóssil em 52% até esse ano, acordado no âmbito do Pacto Ecológico Europeu e do RepowerEU. “É absolutamente inconcebível um novo plano para uma dispendiosa expansão de infraestruturas de gás fóssil cujo horizonte temporal para a sua conclusão será exatamente por volta de 2030”, declararam.
A Zero assegura ainda que Portugal atualmente não tem capacidade elétrica renovável suficiente para exportar hidrogénio verde para o resto da Europa. “Muito antes de pensar em exportar hidrogénio, é necessário utilizá-lo de modo a substituir a utilização de combustíveis fósseis em território nacional”, defendeu.
Por outro lado, em relação a Espanha, as ONGA consideram que o desenvolvimento de novas infraestruturas de gás não trará qualquer benefício adicional para a população espanhola, pois o país já tem uma infraestrutura de gás que tem salvaguardado as necessidades internas. Instam ainda o governo francês a explicar porque mudou de posição sobre a existência deste tipo de estruturas entre a Península Ibérica e França, tendo em conta a oposição que tinha anteriormente demonstrado.
“França, Portugal e Espanha devem respeitar o princípio da eficiência energética e da racionalidade económica, e dar prioridade à poupança de energia e à eletrificação, com investimentos racionais a longo-prazo”, concluem.