Nas 150 cabinas portáteis que vão ser instaladas na “Cidade da Alegria” para que os jovens se confessem, durante os quatro dias da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), existirão certamente momentos de reconciliação.
O exame de consciência faz parte do sacramento da confissão católica e deve ser respeitado como tal. É um momento único, individual, espiritual. E, na velocidade com que os dias correm, encontrar um momento de reflexão é meritório, elogiável. Quer seja num local de culto ou noutro qualquer.
O modelo é que pode ser discutível. Mais uma vez, o modelo.
Lê-se no site das jornadas que o Parque do Perdão conta com 150 confessionários. Um local onde “cada jovem (…) pode encontrar a alegria de se sentir amado e perdoado”.
Não sendo as jornadas especificamente dirigidas aos jovens católicos, mas a todos, “quer estejam mais próximos ou mais distantes da Igreja”, existir um Parque de Perdão não será o melhor apelo para uma maior aproximação dos mais novos à Igreja. Uma confissão em público, seja ela qual for, nunca se poderá aproximar de uma expiação, palavra, aliás, pouco usada na Bíblia.
Não será um exagero concluir que um “spot” de confessionários não é algo com que a maioria dos jovens se identifique. Até que o entenda. Sobretudo num momento em que não são os jovens que têm de ser perdoados.
Há uma juventude que se sente traída, sentimento aceite pela maior parte das instituições e personalidades democráticas. Todos nos lembramos das palavras de Greta Thunberg durante a intervenção na Cimeira do Clima em 2019. “Traíram-nos”, acusou.
“Traímos a juventude do Mundo. Estamos a traí-la agora”, disse também o professor e filósofo Noam Chomsky numa entrevista à TSF.
O retrato da juventude portuguesa está, de resto, bem traçado no estudo de 2021 da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Quase um em cada quatro já esteve medicado com ansiolíticos ou antidepressivos.
A Jornada Mundial da Juventude será de certeza importante para os jovens católicos. E para todos os cristãos. Porventura, poderia ser também notável para outras confissões. Mas não com um Parque do Perdão.
*Diretor-adjunto
