Ao longo de toda a avenida, gente a andar de bicicleta, a passear, a correr, a andar de skate. Também música de vários géneros: grupos de batucada, um imitador de Elvis Presley, uma banda de rock que parece ter saído diretamente dos anos sessenta, chamada Picanha de Chernobill, ou um trio tradicional do Nordeste, com chapéus de cangaceiro.
Aos domingos, a Avenida Paulista é fechada ao trânsito. Então, a via mais icónica da cidade é percorrida por multidões coloridas. Hoje, o sol veio dar ainda mais força a todas essas tonalidades. A uma semana das eleições presidenciais, as cores não têm a inocência de outros domingos. Neste momento, para se fazer uma afirmação política, basta passear pela avenida com roupa vermelha ou, no outro lado do espetro, com roupa verde e amarela.
Alguns preferem essa subtileza mas, muitos mais são os que não querem deixar dúvidas. Então, trazem autocolantes ou, mesmo, cartazes e bandeiras. Nesta manhã, na Avenida Paulista, o número de pessoas com referências ao 13 de Lula, o seu número no voto eletrónico, é muito maior do que as referências ao 22 de Bolsonaro. No entanto, com sondagens a falar de empate técnico, esta “sondagem” a olho não vale nada.
Entretanto, apesar do barulho, apesar dos milhares de pessoas que passam nas duas direções da avenida, um homem dorme no chão, tem a cabeça encostada à base de um semáforo. A poucos metros desse, uma mulher entorna restos de latas de bebida, que tira do lixo e que guarda num grande saco, irá vendê-las a peso.
Numa parede, um pequeno cartaz tem escrito: “A sua geladeira está vazia? A culpa é do Bolsonaro.” Continuo a caminhar e ouço uma conversa a meio, um vendedor ambulante de cocos garante: “Lula é comunista, vai acabar com o pix.” (Pix é o nome do meio de pagamento eletrónico usado no Brasil.) O seu interlocutor faz cara enjoada e responde: “Vai nada, larga de ser ignorante, rapaz”.
Escritor