Marta Pais de Oliveira recebeu, nesta quarta-feira, o prémio literário Nortear, que distingue jovens da região Galiza-Norte de Portugal. O conto em prosa “Medula” foi o escolhido pelo júri, entre 40 candidatos à edição deste ano. A cerimónia decorreu no Museu do Mar, na cidade galega de Vigo.
Em declarações ao JN, a autora referiu que ainda está a dar os primeiros passos na escrita, pelo que o prémio é “um incentivo”. No seu entender, por vezes, “o difícil não é só começar, é continuar”.
O que a inspirou a escrever “Medula” foi um facto “perturbador”. E explica: “Já foram criados ministérios da Solidão no Japão e no Reino Unido”, o que a levou a questionar-se sobre a solidão nos tempos que correm. “Nunca estivemos tão ligados mas, ao mesmo tempo, tantas vezes tão alienados e tão distantes”, refere.
O livro de Marta Pais de Oliveira tem como figuras centrais duas pessoas que estão à porta do Ministério da Solidão, para responder a um inquérito. “Uma dessas pessoas desapareceu virtualmente e isso é proibido”, diz, a propósito da história.
O júri classifica “Medula” como uma distopia ao estilo de George Orwell, a propósito da obra “1984” e da personagem Big Brother. A autora refere que “essa ligação não foi intencional, mas faz sentido a referência”, pois o Ministério da Solidão do seu conto foi criado “para vigiar o mais íntimo das pessoas, a sua identidade”, em prol de um suposto bem-estar coletivo. Daí o título remeter para a medula óssea: “A fábrica do nosso sangue, o que de mais profundo temos dentro de nós”.
Embora tenha partido de uma inquietação, a escritora refere que esta ficção tem também muito a ver com a forma como vê os livros: uma forma de lutar contra a solidão “O mais importante seria que os livros servissem mais para cuidarmos uns dos outros”, sugere.
Natural de Vila Nova de Gaia, a autora tem 32 anos. Em 2020, venceu o Prémio Revelação Agustina Bessa-Luís, pela novela “Escavadoras”.
São já quatro os portugueses a merecer o Nortear. Antes de Marta Pais de Oliveira, foram galardoados Rui Cerqueira Coelho, Sara Brandão e Célia Fraga. As candidaturas para a nona edição abriram nesta quarta-feira e decorrem até 30 de junho de 2023.
O prémio tem uma dotação de três mil euros e contempla a publicação da obra vencedora em português e em galego. Nortear é uma iniciativa do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial da Eurorregião Galiza-Norte de Portugal, da Junta da Galiza e da Direção Regional de Cultura do Norte.