Entre os pássaros mais comuns e os mais exóticos, são 1724 as aves que estão, até este domingo, em exposição no Pavilhão Municipal de Fânzeres, em Gondomar. O evento reúne, no total, 134 criadores e há troféus para as aves mais bonitas em sete categorias.
Para os criadores e amantes de pássaros, a vida “não tem sido nada fácil”. Além de as regras impostas pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) terem “apertado”, principalmente no que toca ao registo dos criadores, o custo das rações para os animais “aumentou 50%”. “São cereais importados”, refere Amílcar Dias, de 66 anos, um dos membros da organização do “Ornishow”, que está até hoje patente no Pavilhão Municipal de Fânzeres, em Gondomar.
“Já fizemos exposições com 5400 pássaros em Gondomar, quando estávamos no Multiusos. Atingimos esse número em 2014, mas estivemos três anos parados, e mais com os dois anos da pandemia, caímos. Começamos tudo novamente no ano passado, aqui, com 1200 aves”, conta Amílcar, referindo que, por esta altura do ano, “há quase exposições em todas as cidades” à volta da região.
A exposição ornitológica reúne, até este domingo, 1724 pássaros, incluindo aves exóticas. O evento é organizado pelo Clube Ornitológico de Gondomar e pelo Centro Ornitológico do Porto. É a 24.ª edição e 4.ª internacional.
No que toca às regras impostas pelo ICNF, Amílcar considera que algumas “não fazem sentido nenhum”. “Por exemplo, um canário está isento de todos os registos e um periquito tem de ser registado. Não faz sentido nenhum. Há muita coisa que está mal e os criadores estão a deixar o hobby. Ninguém percebe nada de pássaros”, critica, assegurando que ter uma ave “exige muito”.
“Estamos há mais de sete meses a fazer o registo dos criadores e até hoje ainda ninguém teve resposta”, acrescenta.
Regras “vão causar muita dificuldade a todos”
Para Leandro Santos, de 46 anos, “as regras que têm vindo a ser implementadas estão e ainda vão causar muita dificuldade a todos”, indústria incluída. “Isto nasce como sendo um hobby e depois torna-se mais sério”, observa.
“Ninguém com 60 ou 70 anos vai deslocar-se a alguma direção veterinária para registar dois ou três pássaros”, considera o gondomarense, que cria aves há 30 anos. Leandro acrescenta que os principais obstáculos prendem-se “no registo de cada criador e nas regras que estão implícitas”.
“Uma delas é que cada criador tem de recensear cada pássaro que cria e comunicar a quantidade de pássaros que cria à Direção-Geral da Alimentação e Veterinária (DGAV). Uma grande parte disto vai desaparecer em breve porque as pessoas não têm capacidade para cumprir as regras impostas. É demasiada papelada e quem criava, por exemplo, uma dúzia de passarinhos em casa ia, normalmente, a uma loja de comércio e trocava uns animais por comida e continuavam a entreter-se com os pássaros. Isso vai acabar”, alerta o criador.
Leandro explica que “para entregar o pássaro à loja, agora, tem de passar uma cedência e uma grande maioria das pessoas que fazem disto um hobby têm uma determinada idade e não vão incomodar-se em cumprir estas regras”. “Todo o setor vai sofrer porque todos fazemos parte”, lamenta.
“Se deixamos de ter as pessoas que criam por gosto, a pirâmide fica cada vez mais pequena. As lojas vão deixar de ter clientes que antes entregavam três ou quatro passarinhos e vão deixar de vender comida para aquele grupo de criadores. Uma parte vai registar-se na mesma, mas a grande maioria não”, perspetiva o gondomarense.