A solidariedade e a preocupação com os que sofrem e os mais pobres são temas constitutivos do espírito natalício. Por isso, não surpreende que este ano eles tenham sido mencionados na quase totalidade das mensagens natalícias dos bispos e administradores diocesanos.
Estes são aqueles que foram eleitos em Angra, Bragança e Setúbal para governar as dioceses até à tomada de posse dos novos bispos. Foi nessa qualidade que se dirigiram aos diocesanos.
Das 20 dioceses portuguesas, estão disponíveis na Internet 18 mensagens de Natal. Em 12 destas são mencionados aqueles que passam dificuldades. Apenas três referem os reclusos, ao aludir a outros que sofrem nesta quadra. Nenhuma delas dedica uma linha à problemática prisional, nenhuma faz eco da carta que o Papa Francisco enviou aos chefes de Estado para este ano terem um “gesto de clemência” para com os detidos e atribuírem mais indultos.
Na verdade, nas mensagens encontram-se poucas referências ao Papa. Só três bispos e dois administradores o referem explicitamente, tendo um bispo utilizado uma expressão sua, muito conhecida, sem o citar.
O presidente da República, apesar de católico e admirador do Papa, também não foi muito sensível ao seu pedido e concedeu os habituais cinco indultos. Só no primeiro mandato concedeu seis, em 2019 apenas dois, e em 2020, por causa da pandemia, 14. O que indicia que poderia ter ido mais longe este ano.
A Jornada Mundial da Juventude é o tema mais frequente. Aparece em 12 desses textos natalícios. Seguem-se as alusões à guerra, particularmente na Ucrânia, mencionada em dez mensagens.
Apesar de todos os apelos do Papa à misericórdia para com os reclusos, esta questão não se encontra entre as principais preocupações natalícias do episcopado. São bispos que refletem a indiferença da sociedade, em vez de a orientarem para novos caminhos.
*Padre