O piloto português regressou à competição este domingo depois de uma suspensão de dois e não podia ter tido melhor “recomeço”. Conquistou o Rally de Lisboa e não podia estar mais feliz.
Bernardo Sousa é a verdadeira prova que uma pessoa ou carreira jamais devem ser julgados ou postos em causa por um erro. Que é possível recomeçar e levantar-se da melhor forma depois de um pesadelo, dar lugar aos sorrisos em vez das lágrimas e reconquistar a popularidade e carinho de todos após ter tido tantos dedos apontados.
O madeirense, hoje com 35 anos, começou nos karts muito cedo, com oito anos, muito graças ao pai, que era apaixonado por automobilismo e que levava o filho aos treinos às escondidas da mãe. Desde logo que o piloto se sobressaiu e provou talento para as pistas. Nos karts, Bernardo chegou a conseguir sagrar-se vice-campeão nacional e vice-campeão da Europa da zona oeste e, na hora de escolher o caminho a seguir depois dos karts, escolheu os ralis. Começou na modalidade em 2005 e, mais uma vez, provou que o talento estava lá: em outubro de 2010, com apenas 23 anos, sagrou-se o mais jovem campeão nacional de sempre ao volante de um Ford Fiesta S2000.
Mas, nove anos depois, em junho de 2019, um erro acabou por deitar tudo a perder e suspender uma carreira que já era promissora. Bernardo Sousa testou positivo no controlo antidoping antes de uma prova no Campeonato Açores de Ralis (CAR). Foi detetada cocaína no organismo do atleta, que sofreu uma penalização que o proibiu de competir durante dois anos. Inicialmente, o piloto alegou que o controlo se devia ao uso de uma substância médica: “Por motivos relacionados com dificuldades respiratórias, utilizei um medicamento inalável que melhora a atividade brônquica e pulmonar. Reconheço, agora, que o terei feito, inadvertidamente, em doses supra terapêuticas, que redundaram num controlo positivo”, escreveu a 9 de julho nas redes sociais. Mais tarde, acabou por admitir ter consumido cocaína “numa festa na Costa da Caparica no dia 25 de Maio”.
Parado e sem pode fazer o que mais gostava, Bernardo Sousa isolou-se. Chorou muitas vezes sozinho e viveu sempre com o peso de ter desiludido a família. “Foi uma infantilidade que eu cometi. Ao início, foi muito difícil porque eu próprio me isolei. Prejudiquei a minha carreira, prejudiquei a minha imagem. Vi o meu nome em todo o lado. Tinha medo que a minha família tivesse vergonha de mim”, admitiu durante a participação no programa “Big Brother Famosos”, da TVI, que acabaria por vencer.
Terminados os dois anos de castigo, Bernardo Sousa voltou a poder regressar às pistas. E melhor regresso não podia ter tido. Ao lado de Jorge Carvalho, Bernardo Sousa venceu o Rali de Lisboa ao volante de um Citroen C3 R5. Terminou com o tempo de 47:05.2 minutos, garantindo uma vantagem de 36 segundos para a dupla Miguel Campos e Nuno Rodrigues da Silva, segunda classificada com um Porsche 911. Daniel Nunes e Nuno Mota Ribeiro, num Ford Fiesta Rally 3, completaram o pódio. “Sem palavras. Muito obrigada pelo apoio!”, agradeceu. A provou que nunca é tarde para recomeçar.