Um dirigível de fabrico alemão seguia para Espanha e, devido aos caprichos do vento, mudou de rota e sobrevoou a costa portuguesa, em abril de 1930, surpreendendo muitos habitantes da cidade do Porto.
Foi um facto inesperado, mas apenas porque não aconteceu na data prevista. A 16 de abril de 1930, as gentes do Porto ficaram de olhos esbugalhados ao ver passar o “Conde Zeppelin”, um dirigível que partira da Alemanha rumo a Espanha e que, por caprichos do vento, teve de mudar de rota e acabou por sobrevoar a costa portuguesa. Os 16 passageiros que seguiam a bordo para passar a semana santa em Sevilha tiveram, assim, uma oportunidade única de desfrutar do “lindo panorama da cidade”, como o JN relatava na edição do dia seguinte.
Depois de saber que o itinerário da viagem teria de ser alterado, o comandante do “Graf Zeppelin” – assim era a denominação em alemão – informou o núcleo regional do Aero Club de Portugal sobre a passagem pelo Porto, indicando um dia. Mas as contas não bateram certo e o grande balão acabou por apanhar muita gente de surpresa, ao surgir noutra data e antes das oito da manhã.
Apesar do desacerto, muitos foram os habitantes que saíram à rua. Não faltava gente nos telhados “e as janelas abriram-se para que os olhos seguissem a rota do gigante balão”, descrevia o JN, acrescentando: “A sua côr cinzenta punha uma linda mancha no ceu e o sol doirando o dorso do dirigível dava-lhe reflexos de prata”. Na Areosa, havia mulheres que gritavam “Olha um porco no ar”.
O nosso jornal fez uma curiosa descrição do interior do “Conde Zeppelin”, dizendo que tinha “todas as comodidades modernas”, além de “sofás-feitos”, cozinha e salão de fumo. O aparelho em causa foi uma das criações da empresa fundada pelo antigo militar Ferdinand von Zeppelin, um conde que não viveu tempo suficiente para o ver voar, pois morreu em 1917. Seria o engenheiro Hugo Eckener a acabar o projeto e gerir a empresa Luftschiffbau Zeppelin.
Eckener era também o piloto que estava aos comandos do dirigível quando passou no Porto. E já tinha sido ele a fazer a viagem inaugural deste aeróstato rígido, em 1928 (fazendo-o cruzar os céus do arquipélago da Madeira), e a protagonizar o primeiro voo do aparelho à volta do Mundo, no ano seguinte, o que aconteceu em apenas 21 dias. Também comandou a expedição ao Ártico, em 1931, em que o aparelho transportou cientistas de vários países.
O Graf Zeppelin LZ 127 foi o dirigível que operou o primeiro serviço comercial transatlântico. Saiu dos céus em 1937, devido à tragédia que envolveu o “Hindenburg”, o maior modelo da empresa, que se incendiou ao aterrar nos EUA, matando 36 pessoas.