Há alguns anos que parte do meu trabalho tem sido capacitar empresas e municípios em ações de sustentabilidade. No início, devo confessar, tive dificuldade em explicar processos complexos como as relações internas dos ecossistemas, ou o fabrico de materiais a partir de plantas e fungos que podem substituir o plástico. Desde então o mundo mudou rapidamente.
Agora existem start-ups inovadoras que produzem cogumelos para alimentação a partir de resíduos de café. Entre estas, a portuguesa “Nãm” (https://nammushroom.com/en). Até mesmo uma grande empresa como a Delta está envolvida em projetos de economia circular, que unem resíduos de café e produção de cogumelos (https://www.distribuicaohoje.com/destaques/delta-cafes-produz-cogumelos-a-partir-da-borra-de-cafe/ ). Há empresas que a partir do lixo orgânico produzido em nossas casas diariamente, criam vermes de uma mosca (a mosca-soldado-negro) dos quais se obtém ómega-3, utilizado para enriquecer os alimentos, materiais para o cuidado do corpo e moléculas que são utilizadas na indústria farmacêutica. Com o resíduo desta produção, faz-se vermicompostagem que, como o nome indica, é compostagem feita por vermes ou minhocas que são capazes de triturar, comer e enriquecer o material, transformando-o em adubo para a agricultura. Este material é rico em hormonas, enzimas, bactérias, aminoácidos e fungos, que estimulam sinergicamente as plantas tornando-as mais resistentes a parasitas e doenças. Contém também substâncias (ácidos húmicos e fúlvicos) que, devido à sua estrutura granular e viscosa, melhoram a estrutura do solo, fornecendo nutrientes para as plantas de forma contínua e equilibrada. Os seus efeitos benéficos duram até quatro anos após sua incorporação no solo.
O vermicomposto reduz a toxicidade dos solos contaminados e consegue armazenar água em quantidade muitas vezes superior ao seu volume, evitando assim a lixiviação de nitratos, fosfatos (eutrofização) e a erosão dos solos.
A Ecovative, empresa norte-americana (https://www.ecovative.com) utiliza cogumelos para produzir tijolos, embalagens e couro para calçado e roupas. A Novamont, uma empresa italiana, a partir do cardo, uma planta amplamente disseminada e invasora na Sardenha, produz um bioplástico inovador com características melhores que os já existentes.
As áreas urbanas podem tornar-se laboratórios da economia circular, dada a grande quantidade de resíduos produzidos diariamente: reciclagem de materiais e produção de adubos. As áreas montanhosas e rurais tornam-se os motores da nova produção: alimentos, bioplásticos e biotijolos.
Os impactos no território são importantes. Estes são os modelos económicos capazes de perdurar e gerar rendimento no futuro.
* Doutor em Ciências Ambientais e professor externo de Sistemas Ambientais e Biomimética na Universidade IUAV de Veneza