Estamos a poucos dias do final de 2022 e, inevitavelmente, será tempo de fazer um balanço e análise ao que aconteceu neste difícil ano.
Terá sempre como referência dois momentos importantes: o final da pandemia da covid e o início da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. Naquele dia de 24 de fevereiro, o Mundo voltou a mudar. A Europa vive, desde então, mais um tempo de conflito e de instabilidade nas suas fronteiras.
No entretanto, tivemos as eleições nos EUA e no Brasil que levaram à saída de Donald Trump e Jair Bolsonaro e a uma nova leitura dos populismos e das suas consequências contra as instituições democráticas.
Por cá, temos de nos habituar a mais quatro anos de governação casuística socialista, conforme o primeiro-ministro nos disse em entrevista, enquanto os líderes dos partidos da Oposição se vão sucedendo e parecem não ter capacidade de marcar um rumo para Portugal.
Neste tempo de balanço, é costume apontar o que correu bem e o que correu mal, o que foi diferente, mas também identificar a dinâmica da agenda dos dias.
Será possível salientar que foi um ano difícil para as famílias e para as empresas, um ano onde o Governo decidiu, e bem, apoiar as mesmas ainda que, para quase todas, o fez de um modo insuficiente.
Uma coisa parece ser certa: tudo o que estamos agora a viver seria muito diferente se tivesse existido capacidade de manter a parceria NATO-Rússia ou se a Turquia fosse membro da União Europeia. Os tempos e os deuses não quiseram que assim fosse e, hoje, parece que vamos a caminho de uma ordem mundial onde a potência emergente é a China, que continua a condicionar as relações internacionais.
No plano interno, o aproximar dos 50 anos do 25 de Abril de 1974 parece exigir um novo debate em torno da democracia portuguesa e do reforço da sua consolidação.
Neste final de ano, gostava de aconselhar algumas leituras para 2023. Começo com um excelente livro do cardeal D. José Tolentino de Mendonça sobre São Paulo – “A metamorfose necessária”. A sua abordagem permite-nos atingir um patamar de tranquilidade e reflexão sobre o ser humano e as suas tarefas de vida. Um muito atual de Max Hastings – “O abismo” -, sobre a crise dos mísseis, em 1962, em Cuba. Um outro, do professor de Cambridge Mauro Guillén – “2030” – sobre a prospetiva até ao final da década. Finalmente, de Amartya Sen – “A ideia de justiça”. Quatro livros que são quatro escolhas, mas todas com uma linha em comum. A procura de uma ideia de justiça e harmonia entre os homens e mulheres mesmo quando os momentos são algo complexos.
Votos de um excelente 2023.
*Professor universitário de Ciência Política