No final da década de 90 do século passado, os portugueses indicavam a toxicodependência como o principal problema social do país. Depois disso, foram tomadas medidas estruturais e Portugal tornou-se referência internacional no tratamento do consumo de drogas. Hoje, estamos a dar passos atrás todos os dias. E o consumo de droga transforma-se outra vez num problema sério. Seja pelos novos consumos, seja pelas recaídas dos que se conseguiram libertar, mas voltaram a consumir.
Como chegamos aqui? Há várias respostas, mas uma delas é óbvia. O país sentou-se, vaidoso, à sombra do reconhecimento internacional e acreditou que tudo se faria por si, mesmo que os centros de atendimento a toxicodependentes (CAT) fossem encerrados, mesmo que os técnicos fossem cada vez menos… O resultado está aí. A reportagem no Bairro da Pasteleira, publicada ontem nas páginas do JN, é reveladora da dimensão do problema.
Rui Moreira tem motivos sérios para reclamar ao Governo que faça alguma coisa, embora o alvo do autarca do Porto não seja o mais certeiro. Medidas repressivas não resolvem o problema, como foi já demonstrado. A criação de uma sala de chuto surgiu como um primeiro passo dado pela autarquia no sentido certo. Mas não chega. Cabe também ao Ministério da Saúde cumprir o seu papel e voltar a dotar as estruturas de tratamento à toxicodependência com os meios adequados.
A extinção do Instituto Português da Toxicodependência, em 2011 – cuja consequência mais imediata foi o desaparecimento dos CAT -, com as administrações regionais de Saúde a assumir as suas competências, talvez tenha sido o princípio do declínio. É hora de enfrentar o problema com seriedade, envolvendo a Polícia, mas sobretudo o Ministério da Saúde. E não falar do assunto apenas como desfile de junkies, quais zombies, que perturba os olhares mais sensíveis em zonas nobres da cidade.
*Editora-executiva-adjunta