Munidos de cartazes onde se lia “Moçambique povo no poder”, “Eleições justas, transparentes e livres”, os manifestantes, na maioria estudantes e trabalhadores, lembraram também Paulo Guambe e Elvino Dias, assassinados em 19 de outubro em Maputo.

 

A plataforma eleitoral Decide estimou hoje que 22 pessoas morreram, mais de metade em Maputo, em três dias de manifestações de contestação aos resultados das eleições gerais moçambicanas de 09 de outubro, além de 23 baleados e 80 detidos.

À Lusa, Darcielle Costa, de Maputo e a trabalhar no Porto, que liderou a marcha que ligou hoje a Praça da República ao Largo Amor de Perdição, afirmou que “o povo moçambicano é muito pacífico, cala-se muito (…), mas o facto de haver mais uma eleição com fraudes e logo a seguir a ter sido questionado o Conselho Eleitoral haver um assassinato foi a gota de água”.

“Finalmente o povo está a acordar e a nova geração está a sair à rua”, acrescentou.

Com parte da família em Maputo, a moçambicana em protesto explicou que “a urgência da manifestação de hoje” passa, também, por “chamar a atenção dos ‘media’ e das entidades internacionais para o problema que se está a viver em Moçambique”.

“Até agora, não sabemos o que o nosso presidente pensa sobre o que se está a passar, o governo não se posiciona e, até hoje, o Conselho Eleitoral apenas publicou os resultados provisórios e ainda não comprovou ser verdade o que anunciou”, insistiu Darcielle Costa.

Awislon Baquete, estudante de Economia na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto foi mais longe na análise ao que se passa no país nos últimos 49 anos, afirmando que decorre uma “tentativa de implantar uma ditadura”.

“Lá, estão a fazer-se marchas pacíficas e a polícia responde com gás lacrimogéneo, usado balas verdadeiras e muita gente morreu sem que as entidades o transmitam. Temos relatos de que morreram no total 150 pessoas, mas os canais de televisão não o dizem devido a ação do governo”, contou.

Por isso, sublinhou, o povo precisava de alguém que o guiasse, “como está a acontecer agora com o Venâncio Mondlane”.

Relatos e vídeos que disse receber da família e amigos que tem na capital moçambicana, permitiram-lhe assistir na sexta-feira, em tempo real, à resposta da polícia a “uma minimanifestação, feita a partir das casas, conforme pedido pelo Venâncio Mondlane, usando panelas e batuques para fazer barulho”, contando que foi lançado “gás lacrimogéneo para as casas das pessoas”.

“Enquanto o nosso povo não parar de marchar, nós não vamos parar também”, garantiu Awislon Baquete sobre a motivação da comunidade daquele país africano a residir em Portugal.

Para Débora Queimada, estudante de Recursos Humanos, o silêncio do Estado português não se compreende, pois “Portugal está sempre presente em questões políticas e sociais em Moçambique”, apelando para que as autoridades nacionais “peçam a clarificação do desfecho das eleições”.

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