A presidente da European Theatre Convention (ETC), Cláudia Belchior, que reúne 63 teatros de 31 países, incluindo quatro de Portugal, disse que o problema foi sentido em Itália, Polónia, Eslováquia, Áustria e “está a começar a crescer na Alemanha”.

 

Em 1 de setembro, a Turíngia, no leste do país, tornou-se o primeiro estado federal onde o Alternativa para a Alemanha (Alternative für Deutschland – AfD), partido de extrema-direita, é a principal força parlamentar.

As autoridades nacionais e regionais das “direitas radicais têm tido uma atitude muito gravosa” nos teatros, galerias de arte e museus públicos europeus, disse a portuguesa Cláudia Belchior.

“Temos um número significativo de associados que estão a ser despedidos, simplesmente porque não têm a linguagem nacionalista que neste momento lhes interessa”, lamentou a também assessora artística da Fundação Centro Cultural de Belém.

“Há teatros em que, pura e simplesmente, o repertório foi eliminado para passar a haver um repertório com uma linguagem nacionalista, única, e isso é muito perigoso para as nossas democracias”, alertou Belchior.

A dirigente sublinhou que, em vez de simplesmente encerrar instituições culturais, a extrema-direita tem preferido “retirar pessoas, quase à pinça, do seu local de trabalho para serem substituídas por outros, que têm uma agenda de propaganda cultural”.

Isto porque estes movimentos “percebem que a cultura é super importante”, explicou Belchior.

Em 30 de setembro, a Áustria tornou-se o primeiro país europeu em que um partido de extrema-direita – o Partido da Liberdade (Freiheitliche Partei Österreichs, FPÖ), fundado por antigos nazis — foi o mais votado numa eleição nacional desde a Segunda Guerra Mundial.

Belchior defendeu que o fenómeno coloca em risco a liberdade de expressão e de criação artística na Europa e revelou que a ETC, fundada em 1988, já transmitiu as suas preocupações à Comissão Europeia.

“Isto já foi utilizado no passado, não é novidade, mas estamos a chegar a um ponto muito preocupante e andamos muito adormecidos, um bocadinho de olhos fechados”, alertou a presidente da ETC.

Belchior recordou que, no ano passado, o Governo de Itália, liderado pelo partido de extrema-direita de Giorgia Meloni, anunciou que os diretores de museus e outras instituições culturais deveriam ser italianos.

“Os nossos colegas italianos, infelizmente muitos deles não falaram, tinham medo. Existe uma cultura de medo: ‘Eu vou falar, eu vou para a rua'”, alertou a dirigente.

Belchior falou à Lusa na região semiautónoma chinesa de Hong Kong, onde está a participar na Hong Kong Performing Arts Expo, uma conferência de profissionais das artes de palco, que termina hoje.

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