O Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), em Coimbra, acolhe, na próxima sexta-feira e no sábado, a próxima etapa do espectáculo que tem investigação, texto, direção e interpretação de Joana Craveiro, diretora artística da companhia.

No dia 31 de maio, será a vez de o espectáculo de teatro documental chegar ao Teatro Municipal Constantino Nery, em Matosinhos, e, em 23 de junho, ao Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, lê-se numa nota do grupo.

Na digressão de 2024, o Teatro do Vestido acompanha “de perto as comemorações do 50.º aniversário do 25 de Abril” tal como a companhia dirigida por Joana Craveiro fez há dez anos, nos 40 anos da revolução.

“Observamos, analisamos, dissecamos, refletimos”, lê-se na apresentação do espectáculo, no qual o Teatro do Vestido sublinha que “a memória não está fechada”, pois “a natureza” da memória é “de uma construção permanente”.

O “significado de um dado acontecimento histórico torna-se, por isso, campo de batalha das subjetividades várias, ideologias e interpretações que se jogam nas diferentes tentativas de inscrever no espaço público uma versão ‘definitiva’ sobre um determinado acontecimento”, sustenta Joana Craveiro sobre a peça.

Ainda que 50 anos constituam “uma fração de segundo na história do planeta” e “um tempo reduzido” na “história de um país”, são uma distância que permite à companhia de teatro, juntamente com “alguns dos agentes e sujeitos dessa história ainda vivos, perceber como foram vividos esses tempos que ainda hoje nos formam e condicionam no nosso presente e nos permitem construir futuros”, acrescenta o Teatro do Vestido.

“Este espectáculo é sobre isso”, escreve a diretora artística da companhia de teatro documental, sublinhando que a peça vive da “relação próxima com a forma como a inscrição da História no espaço público, os usos públicos da memória e as políticas da memória vão evoluindo”.

“E nos vão fazendo evoluir na nossa apreensão e interpretação dos acontecimentos que o espectáculo aborda”, acrescenta Joana Craveiro.

“Este trabalho, cuja investigação teve início em 2011, partiu de uma intensa e aprofundada pesquisa em torno das histórias de vida e memórias de pessoas comuns sobre a ditadura do Estado Novo, o 25 de Abril de 1974 e o processo revolucionário que se seguiu a esse dia — marco de todos os começos na nossa vida como país livre. Foi acompanhado de uma enorme pesquisa histórica e da reunião de documentos, artefatos, objetos pessoais – parte de um arquivo sensível, afetivo, mostrado e manuseado ao vivo no espectáculo”, escreve Joana Craveiro.

Dividido em sete partes, “com um jantar revolucionário a meio e um debate/conversa final”, “‘Um museu vivo’ é um espectáculo exigente e de grande cumplicidade com quem o vê, uma investigação quase forense sobre aspetos que nos constituem como país, como comunidade, como indivíduos, onde memória coletiva e memória individual se interseccionam e onde alguém que nasceu depois interpela o passado a partir do seu lugar de ‘filha da revolução.’ Tudo isto se desenvolve ao longo de seis, que às vezes são mais, pois como museu vivo que é se situa neste lugar de interrogação e citação do presente.”

“Neste ano de comemoração dos 50 anos do 25 de Abril assistimos a uma riqueza de expressões, polémicas, divisões em torno da data, que não poderiam senão estar presentes neste novo ciclo de apresentações que se inicia esta semana no TAGV, em Coimbra”, prossegue a diretora do Teatro do Vestido. “Quem sabe o que cada dia até essas récitas nos reservará ainda? De tudo isso se alimenta este museu. Por isso a sua duração aproximada e o seu caráter aberto, em progresso.”

“A nova composição da Assembleia da República, por seu turno, exige de cada uma e cada um de nós uma consciência do momento crucial em que nos encontramos, esta esquina da história particular onde os caminhos diante de nós se revestem de incerteza e perigo. Mas também da esperança de sabermos o nosso papel neste guião, nesta luta”, conclui Joana Craveiro, diretora artística do Teatro do Vestido.

Com colaboração criativa e assistência de Rosinda Costa (na versão posta em cena entre 2014 e 2016 ) e de Tânia Guerreiro, “Um museu vivo de histórias pequenas e esquecidas” tem figurino de Ainhoa Vidal, desenho de luz e adaptação técnica de João Cachulo, montagens e operação de luz de Cristóvão Cunha, operação de som de Igor de Brito, operação de vídeo de Henrique Antunes e direção de produção de Alaíde Costa.

No apoio à peça está Estêvão Antunes e no apoio técnico FXRoadlights, numa digressão apoiada pela associação Abril é Agora.

“Um museu vivo de memórias pequenas e esquecidas”, com investigação, texto, direção e interpretação de Joana Craveiro, estreou-se em 2014, no âmbito da sua tese de doutoramento.

Nos dias 22 e 23 de Abril, o Teatro do Vestido apresentou, em Vidigueira, Alentejo, o espectáculo “A Revolução também passou aqui”, baseado nas memórias da população do concelho sobre a Revolução dos Cravos.

“Quem for assistir pode esperar ‘embarcar’ numa aventura”, antecipou, na altura, Joana Craveiro à Lusa sobre o espectáculo que pretende ser uma “viagem mágica” em que se valoriza o papel das pessoas “como sujeitos da história” e que fez parte da programação comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril naquele concelho do distrito de Beja.

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