A Aliança Democrática (AD) apresentou, esta quinta-feira, o programa para as eleições europeias, num encontro no CCB, em Lisboa.

“É com uma enorme vontade que aqui estamos – todos os membros da lista. É com enorme vontade que estamos aqui hoje para darmos este 2.º passado da nossa candidatura ao Parlamento Europeu”, afirmou o cabeça de lista da AD, Sebastião Bugalho. 

Considerando que o programa do partido se apresentava como “uma ideia clara de um futuro em comum”, Bugalho defendeu que a AD queria “trazer o melhor da Europa para Portugal”, assim como quer “procurar o melhor para Portugal na Europa”.

“Para o conseguirmos estamos convencidos de que precisamos de uma voz que oiça, mas que também se faça ouvir. De uma voz que seja pela mudança – não pela mudança em si – mas pelo que ela procura melhorar na vida concreta das pessoas. Essa é a mensagem da AD”, continuou, dizendo que essa voz de que fala  defenderá a democracia na Europa “sem hesitações” e “sem medos”.

“Uma voz que consiga um Portugal forte na Europa e uma Europa forte no mundo”, acrescentou, sublinhando que a sua candidatura quer um “Portugal que não quer voltar para trás”.

Depois de ter agradecido a vários sociais-democratas, entre os quais o presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, Bugalho dirigiu-se ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel. “Esta é uma candidatura que herda um património que é seu. Foi o de ter garantido que quando se ouvia a palavra Europa em Portugal, todos sabiam de quem era a voz que tinha proferido a palavra Europa. Era a sua voz. É a sua voz. Foi a sua voz em 2009, contra um governo que não levou Portugal a bom porto. Foi a sua voz em 2014, como um primeiro sinal de esperança para o país depois de um resgate financeiro. E foi a sua voz em 2019 contra um primeiro-ministro que se ameaçou demitir duas semanas antes das eleições europeias, como se elas não existissem”, afirmou.

Sublinhando que era graças ao agora ministro dos Negócios Estrangeiros que esta candidatura se apresentava, Bugalho afirmou: “Tal como Paulo Rangel, antes de nós, e connosco, vamos procurar que a Europa se abra ao mundo, antes que o mundo se feche à Europa”, apontou.

A transição

O cabeça de lista pela AD referiu ainda que a candidatura quer uma transição digital disruptiva, mas atenta aos mais velhos, assim como uma transição energética mais “sustentável”, mas também que não deixe ninguém do ponto de vista social “para trás”. “Queremos mesmo num mundo em guerra, ser um continente de paz. Num planeta que polui, ser uma Europa verde. Numa democracia, quando estiver em risco, escolhemos continuar democratas. Vamos mesmo trabalhar para conseguir isso. Uma Europa que cresce e cuida”, referiu.

Os muros

Na ‘onda’ das distinções, Bugalho falou dos muros da Europa, já “conhecidos”. “Há e houve sempre um muro que separaram aqueles que acreditam do que os que preferem não acreditar”, exemplificou, apontando também um “novo muro, mais recente, perigoso e invisível”. “Um muro que divide os que querem a mudança apenas para a proclamarem e o que pensam a mudança porque querem fazer e colocar ao serviço das pessoas. Esse é o muro dos dias de hoje”, continuou, garantindo que a candidatura da AD se compromete com as transições que preparam a Europa para o futuro. “Mas não deixará a Europa desprotegida, nem mais pobre, nem mais isolada eu nome de nenhum ideal. A verdadeira transição – no digital e na energia – se for feita, concebida e mantida no espaço europeu. A transição para ser transição tem de ser nossa”, acrescentou.

O cabeça de lista falou ainda na economia e investimentos nas infraestruturas. “Se não for racional, com pés e cabeça, vai levar a dois caminhos, ambos maus”, afirmou, defendendo que a AD combaterá uma eventual concentração de tecnologia verde nos países mais ricos. Também a concentração de uma transição na tecnologia para fora do espaço europeu não é defendida pela AD.

“Nenhum dos dois caminhos é solução. Sem equilíbrio, sem moderação, sem ter as pessoas e desigualdades entre estados-membros e entre cidadãos em conta é impossível cumprir a transição verde sem acontecerem duas coisas que não interessam com o país como o nosso: ou perdemos investimentos para outros estados-membros mais ricos, ou perdemos investimento para fora da União Europeia e o planeta continua a ser poluído. Rejeitamos ambas. Queremos fazer a transição verde em Portugal e proteger ao lado da transição, não apesar nem contra a transição”, atirou.

Imigração legal

Sebastião Bugalho defendeu “bom senso e realismo” nas matérias europeias e apontou como exemplo o pacto europeu de Migração e Asilo, dizendo que o PPE contribuiu para o seu sucesso.

“Mas queremos mais. Queremos reforçar os mecanismos de imigração legal neste pacto, é assim que temos a certeza de que a imigração ilegal diminui e que não fica entregue a redes de tráfico humano”, disse.

Para o candidato da AD às europeias de 9 de junho, “só criando os mecanismos certos para a imigração legal, fortalecendo-a e regulando-a” é que há garantias de combate à imigração ilegal.

“É impossível combater a imigração ilegal sem uma imigração legal que seja levada a sério e nós vamos levá-la a sério”, comprometeu-se.

Habitação

Bugalho defendeu ainda o reforço dos mecanismos de imigração legal e comprometeu-se a lutar para que a habitação seja universalizada na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia.

Numa intervenção de cerca de 25 minutos, a crítica mais direta do cabeça de lista da AD aos anteriores executivos do PS chegou na área da habitação.

“Sabemos que a habitação é uma competência nacional dos Estados e também sabemos quem é que falhou a executar o PRR a tempo de dar resposta a essa crise na habitação ao ritmo que deveria. E não esquecemos”, disse.

Ainda assim, defendeu que a Europa poderá “flexibilizar regras para responder em devido tempo à crise habitacional que se vive no continente”, passando pelo lançamento de projetos-piloto ao incentivo à criação de mecanismos que animem o mercado.

“Simbolicamente, mas com vista a colocar em prática soluções que venham resolver esta crise, quero anunciar aqui que defenderemos a elevação do Direito à Habitação na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia, nós vamos mesmo universalizar este direito”, afirmou, numa das medidas que consta do programa hoje apresentado.

E para os mais velhos?

Bugalho destacou ainda outra medida que também faz parte do documento: “A criação de um cartão único europeu – a que sugerimos chamar o ‘plus65’ – que dará acesso rápido e privilegiado a todos os cidadãos europeus com mais de 65 anos a serviços públicos, nos aeroportos, em infraestruturas de transporte, museus, espetáculos ou eventos desportivos”, anunciou.

O programa da AD para os mais velhos prevê também a criação de “uma rede de apoio financeiro europeu a lares e comunidades envelhecidas”.

“Nunca mais no século XXI um cidadão europeu terá vergonha de ver lares na televisão, trabalharemos para isso nos próximos cinco anos”, afirmou.

Bugalho “sem palavras”

O cabeça de lista começou o seu discurso ao final da tarde dirigindo-se a Francisco Pinto Balsemão, considerando que era um “enorme privilégio” que o ex-primeiro-ministro e fundador do PSD estivesse presente. “Há uns meses dei uma entrevista onde dizia que nunca iria para a política porque me comovo facilmente. Sou uma pessoa sentimental, uma pessoa que gosta de pessoas. Estou a tentar encontrar as palavras certas por tê-lo diante de mim e de nós a apoiar esta candidatura. Não encontro as palavras certas. Sendo que as palavras costumavam ser a minha profissão, acabo por fazer um pouco má figura. Não encontro as palavras”, disse no início.

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