Aquelas características foram os atributos que convenceram o Partido Conservador a escolhê-lo como líder em 2022, após o caos dos dois antecessores no cargo, Boris Johnson e Liz Truss.

Mas, se as sondagens estiverem corretas, a liderança de Sunak não mudou muito o rumo da opinião pública em relação aos conservadores e o Partido Trabalhista, principal partido da oposição, prepara-se para voltar ao poder que deixou em 2010.

Pelo contrário, há o risco de deixar os ‘tories’ (conservadores) em pior estado, com um grupo parlamentar reduzido ao menor número de deputados de sempre. O próprio Sunak poderá mesmo conquistar o título de primeiro chefe de Governo na história do Reino Unido a não ser reeleito.

O maior impacto que Rishi Sunak causou na campanha até agora foi uma gafe: a decisão de faltar a uma cerimónia internacional em França, a 06 de junho, para assinalar o 80.º aniversário do Dia D, data-chave da II Guerra Mundial, o que o obrigou a pedir desculpa.

“Não tive a intenção de magoar ou ofender ninguém”, afirmou, perante as críticas de falta de patriotismo e sentido de Estado.

Sunak, atualmente com 44 anos, teve uma rápida ascensão no partido e foi promovido a ministro das Finanças há quatro anos inesperadamente, após a demissão de Sajid Javid. 

Em poucas semanas, teve de elaborar o maior pacote de apoio económico que qualquer antecessor alguma vez teve de fazer fora de tempo de guerra devido à pandemia de covid-19.

Calmo, confiante e sofisticado, tornou-se rapidamente num dos ministros mais populares do Governo de Boris Johnson graças ao programa de retenção de postos de trabalho, que pagou até 80% dos salários daqueles que não puderam trabalhar durante o confinamento desencadeado pela pandemia, salvando milhões de postos de trabalho.

Mais tarde, um plano para incentivar os britânicos a voltar aos restaurantes valeu-lhe a alcunha de “Dishy Rishi”.

O desempenho durante a pandemia, antes da qual mal era conhecido, é invocado repetidamente para comprovar o seu sentido de compaixão na gestão das finanças. 

“Tal como fiz nessa altura, farei sempre tudo o que estiver ao meu alcance para vos proporcionar a maior proteção possível – é essa a promessa que vos faço”, afirmou, no discurso de anúncio da convocação das eleições.

Tornou-se primeiro-ministro em outubro de 2022 com a missão de estabilizar o Governo, depois de Liz Truss ter agitado os mercados financeiros com um plano de cortes fiscais não financiados, medidas que Sunak tinha avisado que seriam imprudentes e causariam estragos. 

Ao ser indigitado primeiro-ministro, tornou-se o primeiro líder britânico de cor e hindu e, aos 42 anos, o mais jovem chefe de governo em mais de 200 anos.

Sunak nasceu em 1980 em Southampton, na costa sul de Inglaterra, filho de pais de ascendência indiana, ambos nascidos na África Oriental. 

O pai era médico de família e a mãe geria uma farmácia, o que lhes permitiu pagar as propinas de Winchester College, um dos colégios internos mais caros e exclusivos do Reino Unido.

Rishi Sunak seguiu depois para a Universidade de Oxford, onde estudou política, filosofia e economia, o curso mais comum entre futuros primeiros-ministros.

Um curso MBA na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, foi a plataforma de lançamento para a carreira como gestor de fundos no banco de investimento Goldman Sachs.

Foi naquela universidade que conheceu a sua mulher, Akshata Murty, filha do bilionário fundador da empresa tecnológica indiano Infosys, com a qual tem duas filhas.

De acordo com a lista do Sunday Times das pessoas mais ricas, o casal tem uma fortuna estimada em 651 milhões de libras (cerca de 768 milhões de euros), fazendo do primeiro-ministro e da mulher mais ricos do que o Rei Carlos III. 

Este nível de riqueza é apontado frequentemente pelos adversários como uma razão para a falta de perceção da realidade e das dificuldades diárias dos trabalhadores.

Sunak foi eleito para o parlamento pelo círculo eleitoral de Richmond, em Yorkshire, norte de Inglaterra, em 2015, e no ano seguinte apoiou a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) no referendo do ‘Brexit’. 

Quando o “leave” (sair) ganhou inesperadamente, a carreira de Sunak descolou e desempenhou vários cargos antes de ser nomeado Ministro das Finanças em fevereiro de 2020.

Para além da missão de equilibrar o orçamento e estabilizar a economia, durante os 20 meses de mandato, Sunak esforçou-se por pacificar as diferentes fações no Partido Conservador. 

A ala mais à direita dos ‘tories’ quer mais firmeza em relação à imigração, maior ousadia na redução de impostos e cautela nas medidas climáticas, enquanto a ala mais moderada quer manter o partido no centro político, o espaço onde historicamente as eleições britânicas são ganhas.

Esta tensão foi notória durante o debate do controverso plano de deportar para o Ruanda imigrantes ilegais que chegam através do Canal da Mancha, em vez de serem autorizados a pedir asilo, e a ameaça de retirar o país da Convenção Europeia dos Direitos Humanos. 

Apesar de o partido deixar um nível de vida mais reduzido e serviços públicos depauperados, Sunak apresenta-se como alguém que ajudou a economia a “virar a esquina”.

Um ano e meio depois, a inflação desceu para os 2%, os salários continuam a subir e as taxas de juro estão prestes a descer. 

A decisão de Sunak convocar eleições antecipadas foi vista como uma jogada na esperança de ser recompensado pelas pessoas começarem a ver os benefícios do seu plano.

O escândalo recente das alegadas apostas de membros do Partido Conservador na data das eleições legislativas não só desacreditou um líder que prometeu governar com integridade e profissionalismo, mas acentuou uma queda anunciada.

“Se Sunak perder (…), então o escândalo das apostas poderá ser o motivo pelo qual estas eleições serão recordadas: uma campanha ‘tory’ deliberadamente incompetente que fez tudo o que estava ao seu alcance para perder o maior número de votos possível”, ironizou o jornalista Freddie Hayward no ‘site’ da revista política e cultural britânica The New Statesman. 

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