Uma equipa de investigadores examinou dezenas de estudos realizados em diferentes regiões do mundo, nomeadamente nos Estados Unidos da América, Reino Unido e China, e concluiu que as redes sociais estão associadas a ferimentos autoinfligidos, embora não se possa falar numa relação de causa-efeito.

 

O estudo final foi publicado em abril e, em comunicado, a FMUP cita os autores, segundo os quais “tem-se assistido a um aumento dos casos de crianças e adolescentes que infligem danos a si próprios de forma intencional, através, por exemplo, de cortes, arranhões ou pancadas, habitualmente em zonas do corpo acessíveis e fáceis de esconder, como pulsos, braços, barriga e pernas”.

Este é considerado um problema de saúde pública na adolescência.

Estes comportamentos autolesivos são “um mecanismo para aliviar emoções negativas e difíceis de lidar (como raiva ou ansiedade), expressar angústia, autopunir-se ou, mais raramente, punir outras pessoas”.

Paralelamente, os investigadores alertam que tem crescido o uso das redes sociais, como o TikTok e o Instagram, o que alterou o modo como os jovens se relacionam entre si e com o mundo que os rodeia, a partir de idades cada vez mais precoces.

Publicado no Journal of Affective Disorders Reports, este trabalho concluiu que existe uma associação entre a exposição às redes sociais e comportamentos autolesivos em crianças e jovens entre os 9 e os 24 anos, quer num contexto de internamento psiquiátrico, quer na comunidade.

Os resultados apontam para um possível “efeito de contágio social” e de “imitação” das redes sociais no comportamento dos mais novos, com crianças e jovens a assumirem que seguiam plataformas ‘online’ com publicações de automutilações antes de também o fazerem.

“A possibilidade de um efeito de contágio permanece uma questão em aberto, assim como a causalidade da associação entre redes sociais e comportamentos autolesivos”, ressalvam, no entanto, os investigadores, para quem “a causalidade não pode ser, para já, generalizada”.

Os autores sugerem a realização de estudos que analisem as experiências e as perspetivas das crianças e dos jovens ao longo do tempo, de modo a perceber, por exemplo, se a automutilação ocorre antes ou depois de assistirem ou de participarem em conteúdos do género nas redes sociais.

Também sugerem que se complemente o autorrelato das crianças e jovens com recurso à tecnologia disponível, de modo a rastrear o tempo objetivamente gasto por estes nas redes sociais e estudar a importância do número de horas de exposição e o papel do género.

Assinam este trabalho Luís Guilherme Spínola e Irene Carvalho, da FMUP, bem como Cláudia Calaboiça, do Centro de Psicologia da Universidade do Porto (CPUP).

Na quarta-feira, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que a utilização problemática das redes sociais está a aumentar entre os jovens europeus, que são também mais propensos a desenvolver o vício do jogo.

“Precisamos de uma ação imediata e sustentada para ajudar os adolescentes a parar a utilização potencialmente prejudicial das redes sociais, que tem demonstrado levar à depressão, ao ‘bullying’, à ansiedade e ao mau desempenho escolar”, afirmou o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, em comunicado.

Em 2022, 11% dos adolescentes (13% das raparigas e 9% dos rapazes) mostraram sinais de utilização problemática das redes sociais, em comparação com apenas 7% quatro anos antes, de acordo com dados obtidos junto de 280.000 jovens com 11, 13 e 15 anos de 44 países da Europa, Ásia Central e Canadá.

Os sintomas são semelhantes aos da toxicodependência: incapacidade de controlar a utilização excessiva, sentimentos de desistência e abandono de outras atividades em favor das redes sociais e consequências negativas na vida diária.

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