Numa mensagem enviada a várias entidades, a Associação QSintra — Em Defesa de um Sítio Único refere que “foi com profunda consternação” que tomou conhecimento do anúncio dos Hotéis Valverde “da construção de um parque de estacionamento automóvel em pleno recinto do Palácio de Seteais”, com “capacidade para 80 viaturas, no local onde existia um picadeiro”.

 

“O Palácio de Seteais e a sua área envolvente, onde se insere o futuro estacionamento, estão classificados de Interesse Público, estão inseridos na área classificada Património Mundial pela UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura] e estão incluídos na área protegida” do Parque Natural de Sintra-Cascais (PNSC), acrescenta-se na mensagem.

Para a associação de defesa do património, “é a todos os títulos lamentável que, em vez de procederem à arborização da área do antigo picadeiro, ou promoverem o eventual regresso deste ao local onde funcionou durante décadas”, os novos concessionários de Seteais tenham “optado pela construção de um parque de estacionamento automóvel no centro da paisagem histórica e natural”.

O parque de estacionamento, considera a QSintra, “em nada prestigia Seteais, e [está] em contraciclo com as melhores práticas internacionais, inclusivamente em conflito com os intentos da Câmara Municipal de Sintra em promover, e bem, a construção de parques de estacionamento dissuasores, fora do centro e o mais longe possível dos monumentos e dos locais turísticos”.

A associação protesta “veementemente pela anunciada construção” do parque, “que denuncia um retrocesso civilizacional” com que não contava, e apelou “para que não” se faça o equipamento.

A mensagem foi enviada à Câmara de Sintra, Parques de Sintra-Monte da Lua (PSML), instituto Património Cultural, Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Comissão Nacional da UNESCO.

Para Madalena Martins, da QSintra, a construção de um parque de estacionamento dentro de Sintra revela “falta de visão e de planeamento”, que irá agravar o já caótico trânsito na vila.

A PSML, que concessionou o Palácio de Seteais ao grupo Valverde, informou que “as intervenções, no respeito de toda a legislação em vigor, implicam a elaboração de um relatório prévio”, que deve ser enviado à sociedade de capitais públicos “para análise e validação prévia”, considerando as suas metodologias “na recuperação do património”.

“No caso em concreto, a Parques de Sintra não tem conhecimento da eventual intervenção descrita, pelo que irá apurar” o seu “contexto e enquadramento”, acrescentou fonte oficial da sociedade à Lusa.

O Palácio de Seteais, classificado imóvel de interesse público, foi edificado em finais do séc. XVIII por iniciativa de Daniel Gildemeester, cônsul da Holanda em Portugal, e a quinta seria adquirida, em 1800, pelo V Marquês de Marialva, que acrescentou o corpo oriental, igualmente de inspiração neoclássica.

No interior do palácio, adaptado a unidade hoteleira em 1955, destacam-se frescos, de linhas puras e cromatismo intenso que revestem várias salas, designadamente de pendor mitológico.

A concessão da gestão do hotel esteve entregue desde sempre à cadeia Tivoli, do grupo Espírito Santo, até ao colapso do BES, tendo então sido vendido ao grupo tailandês Minor, mas o palácio passou em 01 de janeiro deste ano para o grupo Valverde.

O grupo venceu o concurso público para gerir nos próximos 30 anos o Valverde Sintra Palácio de Seteais, mediante uma renda total de 18,5 milhões de euros (600 mil euros por ano) e se comprometeu a investir 22 milhões de euros em obras de recuperação.

A Lusa contactou o grupo Valverde, mas ainda não obteve resposta às questões colocadas.

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