“Se a Etiópia quiser ter acesso ao mar da Somália, nós saudamo-lo, mas queremos que a Etiópia tenha acesso da mesma forma que o Uganda tem acesso ao mar do Quénia, da mesma forma que o Burundi e o Ruanda têm acesso ao mar da Tanzânia (…) e da mesma forma que a Etiópia tem acesso ao mar do Djibuti”, disse Mohamud numa conferência sobre integração regional na capital da Somália, Mogadíscio.

“Esqueçam a ideia de colocar forças navais na Somália e de ter uma base naval na Somália”, disse o Presidente somali.

Este é o mais recente episódio da crise diplomática que eclodiu entre os dois vizinhos em 01 de janeiro, quando a Etiópia e a Somalilândia – uma região autoproclamada independente – assinaram um memorando de entendimento para garantir o acesso do país sem litoral ao Mar Vermelho.

O pacto permitiria à Etiópia ter uma base naval permanente e um serviço marítimo comercial no Golfo de Aden através de um acordo de arrendamento de 20 quilómetros de costa por 50 anos.

Em contrapartida, segundo o Presidente da Somalilândia, Muse Bihi Abdi, a Etiópia reconheceria o território como um país independente, embora a Etiópia tenha afirmado que ainda não avaliou este pedido.

O acordo foi considerado ilegal e anulado por Mohamud, enquanto a União Africana (UA), a União Europeia (UE) e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD, um bloco de oito países da África Oriental), e as Nações Unidas, através do seu secretário-geral, António Guterres, apelaram ao desanuviamento através do diálogo.

Todavia, mesmo depois de os ministros dos Negócios Estrangeiros do Grupo dos Sete (G7) – os países mais desenvolvidos – se terem juntado a este pedido, o Governo somali rejeitou qualquer diálogo, a menos que o pacto fosse cancelado primeiro.

No meio da escalada de tensões, Mogadíscio ordenou, em abril, o regresso ao seu país do embaixador etíope na Somália e o encerramento de dois consulados etíopes nas regiões da Somalilândia e da Puntlândia.

As autoridades somalis ameaçaram igualmente expulsar as tropas etíopes presentes no país, quer através de acordos bilaterais, quer no âmbito da Missão de Transição da União Africana na Somália (ATMIS).

“Enquanto a Etiópia persistir em violar a nossa soberania, integridade territorial e independência política, não podemos e não iremos considerá-la como um aliado na promoção da paz e da segurança na região”, afirmou o conselheiro de segurança nacional da Somália, Hussein Sheik-Ali, na rede social X, no início de junho.

A Somalilândia, um protetorado britânico até 1960, não é reconhecida internacionalmente, embora tenha Constituição, moeda e Governo próprios e melhor desenvolvimento económico e mais estabilidade política do que a Somália.

A região declarou a sua separação da Somália, uma antiga colónia italiana, em 1991, quando o ditador somali Mohamed Siad Barré foi derrubado.

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