O advogado de Diogo Faria, acusado de ter selecionado os e-mails do Benfica divulgados há cerca de cinco anos no Porto Canal, reiterou, esta terça-feira, que o seu cliente e Francisco J. Marques, diretor de comunicação do F. C. Porto, não manipularam as mensagens tornadas públicas, com o fim de revelarem um alegado polvo encarnado no futebol.
“Que sentido teria alguém truncar e ficcionar uma narrativa quando depois se sujeita à análise de outros órgãos de comunicação social?”, questionou, na reta final do julgamento, João Costa Andrade, lembrando que as mensagens em causa foram disponibilizadas na íntegra à imprensa. “Lendo os e-mails na sua integralidade e pela ordem, não me parece que o sentido global seja alterado”, insistiu.
O defensor alegou, de resto, que, mesmo que o tribunal entenda que não há “interesse público” na informação tornada pública, os arguidos “atuaram convencidos” de que aquele era real, não existindo, por isso, fundamento para serem condenados por violação de correspondência.
“Atuaram convencidos de que estavam a servir o futebol, a contribuir para uma maior verdade desportiva e para que estas práticas sejam erradicadas”, acrescentou.
O causídico invocou, paralelamente, argumentos jurídicos para demonstrar que Francisco J. Marques e Diogo Faria devem ser absolvidos dos restantes ilícitos por que estes respondem: acesso indevido e ofensa à pessoa coletiva. Entre eles está o facto de ter sido um terceiro, cuja identidade é desconhecida, a extrair a documentação do sistema informático do Benfica e não os dois elementos portistas.
João Costa Andrade desvalorizou ainda a falta de arrependimento a que, durante a manhã, um dos mandatários dos arguidos tinha criticado. “Não estamos no processo para demonstrar arrependimento. As coisas são como são. [Os arguidos] estão absolutamente conscientes de que atuaram ao abrigo de uma causa de justificação”, sustentou.
Além de Francisco J. Marques, de 56 anos, e Diogo Faria, de 32, senta-se ainda no banco dos réus Júlio Magalhães, de 59, à data dos factos diretor-geral do Porto Canal e atualmente jornalista noutra estação.
As alegações finais prosseguem amanhã, quarta-feira, com as intervenções dos mandatários de Francisco J. Marques e de Júlio Magalhães. O julgamento decorre desde setembro de 2022, no Tribunal Central Criminal de Lisboa.