Alano Silva, último arguido da invasão à Academia de Alcochete, que não foi incluído no processo original por não ter sido detido com os outros 43 arguidos, começou esta quarta-feira a ser julgado no Tribunal de Almada pela participação na invasão e agressão aos jogadores e staff do Sporting. Ao JN, a sua advogada, Sandra Martins, aponta a estratégia da defesa, que não há provas que o arguido estivesse na Academia de Alcochete.
Alano Silva, de acordo com a investigação, foi um dos que fugiu no dia 15 de maio e quando ocorreram novas detenções, a 9 de julho, este tinha ido para Angola, um dia antes. Também é tido como membro do staff da Juve Leo, respondendo diretamente a Mustafá e com participação ativa nos grupos de WhatsApp onde os agressores combinaram a ida a Academia. Diz, entende o MP, como o grupo deve ir vestido, com balaclavas para ocultar a identidade e quando deve ocorrer a entrada no balneário, quando os jogadores lá estão e não no relvado.
Em tribunal, o arguido não prestou declarações e à saída, recusou comentários ao JN, dizendo apenas que não é número 2 da Juve Leo nem figura como figura alta na hierarquia da claque.
A sua advogada, Sandra Martins, referiu que não há provas sobre a sua presença na Academia de Alcochete no dia 15 de maio de 2018 e que a sua ida para Angola deveu-se a situações familiares, não para se evadir à justiça, que o iria deter precisamente no dia seguinte à viagem.
Em tribunal testemunharam três militares da GNR que acorreram à Academia no dia das agressões, revivendo tudo o que já tinham testemunhado no processo original. Nenhum se cruzou com Alano e à saída, a juiz Sílvia Pires, que julgou o caso principal em Monsanto disse-lhes que esperava ser a última vez que os chamava para testemunhar neste caso.
Também foram ouvidos militares da Unidade de Intervenção da GNR, que coadjuvou o MP no inquérito após as primeiras 23 detenções. Nuno Pereira e José Monteiro da Unidade de Intervenção, referiram que a identificação de Alano Silva partiu da Unidade Metropolitana de Informações Desportivas (spotters) que analisaram os fotogramas do sistema de videovigilância da Academia e onde surge de cara tapada. O seu número de telefone, que consta também na ficha dos spotters que o têm como membro do staff da Juve Leo, é o mesmo que consta nas conversas de Whatsapp onde os agressores combinaram a ida a Alcochete.
A advogada de Alano questionou os militares sobre o resultado da localização de rede do telefone que é tido como do arguido, tendo estes respondido que não acionou como estando em Alcochete. “Mas isso aconteceu a outros que foram detidos também”, disse Nuno Pereira. José Monteiro apontou também à existência de testemunhas, dentro do balneário, que o identificaram e ainda referiu a existência de escutas que comprovam que o telemóvel era do arguido, mas que nenhuma conversa intercetada foi útil para o processo.
Alano Silva está acusado de 19 crimes de ofensas à integridade física qualificada, bem como 24 crimes de ameaça, três crimes de coação e um de entrada em lugar vedado ao público. Não constam nesta acusações os crimes por que os principais arguidos foram absolvidos, como o sequestro e a agravação por terrorismo.
O Tribunal de Almada vai chamar 70 testemunhas, entre elas jogadores, o técnico Jorge Jesus ou o presidente Frederico Varandas, então médico no clube. Há ainda dois agressores que foram condenados no processo principal que vão ser chamados a depor no julgamento que vai começar no fim deste mês em Almada. Trata-se de Filipe Alegria e Guilherme Gata de Sousa, condenados a penas suspensas no processo original.