A proposta foi apresentada pelos vereadores do PCP na reunião privada do executivo municipal e aguarda agendamento para discussão e votação.

 

O Partido Comunista pretende assim desencadear o processo para “a atribuição do nome de Celeste Martins Caeiro (Celeste dos Cravos) a uma das artérias da cidade de Lisboa”.

Nesta reunião, também por proposta do PCP, a Câmara de Lisboa aprovou, por unanimidade, um voto de pesar pela morte de Celeste Caeiro, expressando à sua família e amigos as mais sentidas condolências.

Celeste Caeiro morreu na sexta-feira aos 91 anos, no Hospital de Leiria, disse à agência Lusa a neta, Carolina Caeiro Fontela, lamentando que a sua avó nunca tenha sido homenageada em vida.

No voto de pesar, o PCP recorda que Celeste Caeiro, conhecida como a Celeste dos Cravos, foi militante comunista, mulher trabalhadora e de convicções fortes, que “enfrentou uma vida de dificuldades com perseverança”, considerando que “a sua generosidade e afabilidade ficarão na memória de todos”.

“Celeste Caeiro ficará para sempre associada à história e memória do 25 de Abril e da liberdade no nosso país, não só pelo bonito gesto que protagonizou naquela manhã do dia 25 de Abril de 1974, como também pelo que fez ao longo da sua vida. A Celeste, depois de ter semeado cravos nas espingardas dos soldados, dedicou a sua vida a semear cravos entre as crianças, em centenas de encontros e conversas que realizou em escolas do país”, refere o PCP.

A propósito dos 50 anos da Revolução de Abril de 1974, os vereadores do PCP na Câmara de Lisboa apresentaram uma proposta, que foi aprovada por unanimidade, em maio deste ano, para “que fosse prestada a justa homenagem a Celeste Caeiro, com um monumento evocativo a colocar no espaço público e ainda a atribuição da Medalha de Honra da Cidade”, que continua por concretizar.

Em abril, por ocasião das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, Celeste Caeiro e a neta, ambas residentes em Alcobaça, no distrito de Leiria, esclareceram a história de como os cravos entraram na revolução.

“Há muita gente que ainda pensa que foi uma florista [que deu um cravo a um soldado], mas a minha avó não era florista”, disse a neta à Lusa, lembrando que Celeste trabalhava num ‘self-service’ no edifício Franjinhas, na Rua Braamcamp, em Lisboa.

Com a mãe e uma filha de 5 anos a seu cargo e a viver numa “casa humilde, sem rádio e sem televisão”, só quando chegou ao emprego, no dia 25 de Abril de 1974, é que Celeste soube que estava a haver uma revolução.

Nesse dia, o ‘self-service’, que completava um ano, não iria abrir portas e o patrão, “que tinha mandado comprar cravos para oferecer aos clientes e decorar o espaço, disse aos funcionários que levassem um ramo cada um”.

Celeste pegou no seu ramo de cravos – “vermelhos e brancos” – e rumou ao Rossio para ver “o que há tanto tempo esperava que acontecesse”.

Foi aí que perguntou a um soldado o que estavam ali a fazer e se precisava de alguma coisa.

O soldado, “de quem nunca soube a identidade, fez sinal de que queria um cigarro” e Celeste, que sofria dos pulmões e nunca fumou, deu-lhe antes um cravo, que o militar colocou no cano da arma e que acabaria por ser o símbolo da revolução.

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