“O estado Português precisa de tomar um posicionamento pela paz, tem de deixar de ser hipócrita, cínico e conivente (…). Não resolve tudo, mas era um passo importantíssimo que o Estado português concedesse a Palestina como um Estado” disse Paulo Raimundo à agência Lusa, à margem de uma sessão evocativa do 111º aniversário do histórico líder comunista Álvaro Cunhal, realizada hoje em Alpiarça, no distrito de Santarém.

 

O secretário-geral do PCP solicitou ainda esclarecimentos ao Governo sobre a paragem do navio Nysted Maersk em Lisboa, apontando que, embora o executivo tenha garantido que a carga do navio não incluía armamento, ainda há questões que não ficaram totalmente esclarecidas.

De acordo com organizações internacionais e movimentos de solidariedade para com o povo palestino, o navio Nysted Maersk, que atracou no sábado à noite em Lisboa, está envolvido no transporte de armas e munições para o exército de Israel, tendo, nos últimos meses, realizado cerca de 400 transportes dessa natureza.

Segundo o Comité Nacional Palestiniano BDS (Boicote, Desinvestimento, Sanções), o navio usava o porto espanhol de Algeciras para descarregar armamento, que depois seria levado até Israel noutros navios, mas o Governo espanhol terá proibido a utilização daquele porto e, por isso, a solução alternativa passou a ser Portugal.

Em comunicado enviado às redações no sábado, o Governo português justificou a autorização dada para a acostagem do navio com o facto de não transportar “qualquer carga militar, armamento ou explosivos” e descreve detalhadamente a carga, em que se incluem “três contentores com componentes de aviões (peças de asas) com destino aos EUA”.

Hoje, o PCP anunciou que enviou perguntas ao ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e ao ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, para saber “que diligências em concreto e que entidades foram consultadas no processo de averiguações que conduziram à autorização de acostagem dada ao navio Nysted Maersk”.

O Partido Comunista quer ainda saber se, “em algum momento nesse processo, o Governo português procurou obter junto do Governo de Espanha informações sobre as razões para a proibição da acostagem do navio no porto de Algeciras”.

Num discurso proferido na Casa dos Patudos, em Alpiarça, para celebrar o 111º aniversário de Álvaro Cunhal, o secretário-geral do Partido Comunista Português criticou ainda o Governo e os partidos de direita por desrespeitarem a Constituição da República Portuguesa.

Paulo Raimundo referiu que a Constituição mantém princípios fundamentais que protegem os direitos dos trabalhadores, princípios esses que “são frequentemente desrespeitados por sucessivos governos, incluindo o atual Governo PSD/CDS”.

“O problema é que a Constituição tem sido reiterada e sistematicamente desrespeitada por sucessivos governos, incluindo o atual Governo PSD/CDS, com políticas e um Orçamento do Estado que mereceram desde o primeiro momento a nossa mais firme oposição”, afirmou.

O líder dos comunistas portugueses também criticou a aproximação política entre PSD, CDS-PP, Chega e Iniciativa Liberal (IL) e acusou o PS de se unir a essa agenda política ao viabilizar o Orçamento do Estado.

“Estão unidos e de acordo na aceitação da submissão aos ditames de Bruxelas e aos interesses dos monopólios e do grande capital”, criticou. 

Durante a sessão evocativa de Álvaro Cunhal, Paulo Raimundo lembrou a importância histórica do líder comunista no ano em que se celebram os 50 anos da revolução de Abril.

“Essa revolução de hoje e de amanhã, que teve em Álvaro Cunhal uma das suas figuras maiores, alguém que desde cedo deu um contributo fundamental para a elaboração e a concretização da linha política do partido”, afirmou. 

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