O politólogo Floris Biskamp não antecipa “nada de espetacular” do congresso da AfD que arranca sábado, em Essen, com apenas uma decisão importante na agenda, a escolha de uma nova liderança, ou a recondução da que já existe.

“Temos, neste momento, uma liderança formada por Alice Weidel e Tino Chrupalla que não tem, aparentemente, oposição conhecida. No entanto, há a possibilidade de o partido mudar do modelo de dois líderes para apenas um, o que seria uma novidade para a AfD”, admite o especialista em política populista de direita da Universidade de Tübingen.

“Há rumores que dizem que Chrupalla tem uma posição mais frágil porque vários membros do partido lhe atribuem a culpa pelos não tão positivos resultados nas eleições europeias. Seria Weidel a única cara à frente do partido. Mas isto são apenas suposições porque na AfD já sabemos que tudo pode acontecer”, acrescenta em declarações à Lusa.

A AfD conseguiu 15,9% dos votos, uma subida em relação às últimas europeias de 2019, mas que fica atrás dos 20% atribuídos pelas sondagens em março deste ano.

“Ganharam votos em relação a 2019 apesar de todos os escândalos. A mim, como observador externo, isso diz-me que muitos dos eleitores da AfD não querem saber destas polémicas. Ou porque não vêm isso como problema, não acreditam nos media, ou até vêm isso como uma espécie de conspiração contra o partido”, aponta Biskamp.

Há outros pontos que deverão ser tratados no congresso, como os escândalos dos últimos meses que envolvem os dois candidatos principais às europeias, Maximilian Krah e Petr Bystron, por alegadas ligações às China e à Rússia.

O afastamento do partido da sua família política no Parlamento Europeu e as votações regionais nos estados da Saxónia, Turíngia e Brandeburgo, marcadas para o outono, também deverão merecer destaque.

“Também se querem preparar para o futuro, enfrentam o desafio de formar um novo grupo no Parlamento Europeu. Para isso, precisam do apoio de pelo menos outros seis países. Circulam informações de que isso já está a acontecer com a Bulgária e a Roménia”, realça o politólogo Floris Biskamp.

O especialista em política populista de direita da Universidade de Tübingen não antecipa que novas estratégias saiam deste congresso, mas prevê que se insista em mais do mesmo como a “politização das políticas migratórias” e passar a imagem de que a AfD é a “única verdadeira força política da oposição”.

São esperados vários protestos em diferentes zonas da cidade já a partir de sexta-feira.

“Os protestos não são novos, o que poderá ser diferente é a escala atendendo às manifestações que temos visto nos últimos meses. Isto talvez faça a AfD reconsiderar na altura de fazer congressos em cidades grandes do oeste da Alemanha. Talvez seja mais inteligente convocá-las no Este, ou em cidades pequenas, onde haverá menos espaço para manifestações (…) A polícia está preparada e penso que o congresso vai mesmo acontecer”, acredita o politólogo alemão.

“Se os manifestantes forem milhares, isto terá mais impacto nos media do que qualquer coisa que possa acontecer dentro do congresso”, conclui.

O congresso do partido, liderado por Alice Weidel e Tino Chrupalla, está marcado para os dias 29 e 30 em Essen, na região do estado da Renânia do Norte-Vestefália.

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