“‘Catarina e a Beleza de Matar Fascistas’ é um drama familiar íntimo com uma perspetiva política evidente, que aborda os perigos da ascensão do fascismo e a responsabilidade pessoal”, disse à agência Lusa a programadora Amy Cassello, diretora artística da Brooklyn Academy of Music (BAM), para quem o texto de Tiago Rodrigues, que se estreará em Nova Iorque no próximo dia 13, é “emocionante e incrivelmente oportuno”.

 

Amy Cassello respondia às perguntas da Lusa poucos dias antes das eleições presidenciais norte-americanas. A diretora artística da BAM disse que decidiu apresentar a peça em Nova Iorque depois de a ter visto no Festival TransAmériques, em Montreal, no passado mês de maio, promovendo assim o regresso do atual diretor do Festival de Avignon ao palco de Brooklyn.

“Tiago Rodrigues estreou-se na BAM como dramaturgo e ator em outubro de 2021 com ‘By Heart’, uma peça que convidava dez elementos do público a memorizar o Soneto 30 de Shakespeare, enquanto partilha histórias sobre a sua avó Cândida e o seu espírito de intervenção”, recordou Amy Cassello. “Foi um exemplo extraordinário de ‘storytelling’ e um momento único de participação do público”.

Para Cassello, “o diretor artístico do prestigiado Festival de Avignon é um encenador muito respeitado”, que necessariamente “traria algo de excecional a Brooklyn”, para mais com uma peça “amplamente aclamada”.

“A qualidade da produção é excecional”, prosseguiu Amy Cassello nas respostas que enviou por escrito à agência Lusa, sobre a estreia nova-iorquina de “Catarina e a beleza de matar fascistas”. A peça tem “um cenário ambicioso, uma encenação criativa, um elenco fantástico e a direção hábil de Tiago”.

De acordo com Cassello, a obra “capta bem a dinâmica familiar, a rivalidade entre irmãos, as receitas familiares, a complexidade da relação entre mãe e filha”.

“A peça levanta questões interessantes sobre a responsabilidade individual e coletiva, o que a torna uma experiência teatral poderosa e um comentário perspicaz sobre os tempos atuais”, sublinhou a diretora da BAM.

Esta “importante obra” é apresentada na BAM de 13 a 17 de novembro, no âmbito do Crossing the Line Festival, da L’Alliance New York, o que “acrescenta mais uma camada ao seu impacto”, segundo Amy Cassello.

“Catarina e a Beleza de Matar Fascistas” centra-se numa família que tem por tradição matar fascistas, ritual que a mais nova de todos, Catarina, se recusa a cumprir, por entender que todas as vidas devem ser defendidas, sendo necessário falar e entender aqueles que acabam por votar na extrema-direita, sem serem fascistas.

O espetáculo culmina com um longo monólogo do dirigente de extrema-direita, que alcança maioria absoluta e conquista o poder.

A peça teve estreia em setembro de 2020, no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, e mantém-se em cena desde então, acumulando prémios e representações em salas internacionais de espetáculo, nos diferentes continentes.

Quando da estreia em Itália, em 2022, onde venceu o Prémio Ubu de melhor espetáculo estrangeiro de teatro, a peça foi acompanhada de protestos de forças de extrema-direita, com um deputado do partido Irmãos de Itália (Fratelli d’Italia, agora no governo) a pedir que fosse retirada de cartaz.

Em setembro desse ano, numa entrevista promovida pelo Clube de Jornalistas, em parceria com a agência Lusa e a Escola Superior de Comunicação Social, Tiago Rodrigues afirmava que a peça termina com o longo e violento monólogo extremista “porque é uma tragédia”.

“Ali o que acontece é a vitória da extrema-direita pela incapacidade, a impossibilidade de uma democracia, naquele caso uma família que quer defender a democracia pela violência, e mesmo assim é incapaz de impedir a vitória de um discurso fascista e antidemocrático”, disse.

“O discurso é tão insuportável, tão provocatório que o público não pode senão reagir”, prosseguiu Tiago Rodrigues na mesma entrevista, recordando reações diversas, em diferentes palcos: “Em Portugal, têm cantado a ‘Grândola’, em Itália, a ‘Bella Ciao’, em Viena, o público levantou-se. Ver esses públicos reagir é algo que me devolve confiança, mas ao mesmo tempo preocupa-me que o público tão facilmente se revolte contra um ator”.

Depois de Nova Iorque, “Catarina e a beleza de matar fascistas” estará em cena em Nicósia, no Chipre, em dezembro. Em janeiro regressará a França, para representações em palcos de Saint-Ouen, Lyon e Marselha, que intercalará com teatros de Lugano e Lausana, na Suíça, até março de 2025.

Tiago Rodrigues soma outros seis espetáculos em digressão mundial ao longo da temporada de 2024-25 – “By Heart”, “Coro dos amantes”, “Entrelinhas”, “Hécuba, não Hécuba”, “Na medida do impossível”, “O Cerejal” -, aos quais se juntará a sua próxima peça, “No Yogurt for the Dead”, a estrear em janeiro no teatro belga NTGent e que será apresentada em Portugal no mês seguinte.

O novo espetáculo vai estar em cena na Culturgest, em Lisboa, de 19 a 23 de fevereiro, cerca de um mês após a apresentação de “Hécuba, não Hécuba”, estreada em julho no festival francês, no Centro Cultural de Belém (09 e 11 de janeiro), e seguirá depois para o Theatro Circo, em Braga, nos dias 27 e 28 de fevereiro, no âmbito da programação da Capital Portuguesa da Cultura 2025. Em maio, fará parte do programa do Wiener Festwochen, na capital austríaca.

Na próxima sexta-feira, o teatro de Tiago Rodrigues estará em Santarém, com “Entrelinhas”, seguindo depois para o Teatro Stephens, na Marinha Grande, no dia 16.

“Entrelinhas”, um monólogo interpretado por Tonan Quito, constrói-se a partir das cartas de um preso para sua mãe, escritas nas entrelinhas duma edição de “Édipo Rei”, de Sófocles, encontrada na biblioteca da prisão.

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