Intitulado ‘Mother wears the wolf’s pelt’ (2003) (‘A mãe veste a pele do lobo’, em tradução livre), o quadro em pastel sobre papel faz parte de uma série que retrata o conto do Capuchinho Vermelho, e foi adquirido por um “cliente português que pediu para manter o anonimato”, indicou a leiloeira, contactada pela agência Lusa.

 

Com estimativa inicial entre 180 mil e 250 mil euros, segundo o catálogo do leilão de arte moderna e contemporânea organizado pela Veritas Art Auctioneers, a obra pertencia a uma coleção particular portuguesa, e já foi exposta em Portugal e no estrangeiro.

‘Mother wears the wolf’s pelt’ – com dimensões de 84 por 67 centímetros – foi arrematada por 293.136 euros, exatamente o mesmo valor que atingiu a peça em acrílico sobre papel intitulada “Pioneiros” (1982), da mesma artista, leiloada pela Veritas em fevereiro deste ano.

“Eventualmente, o recorde da artista em Portugal com venda em leilão, aconteceu no Porto, em dezembro de 2008, com a obra ‘Hey-diddley-dee – Uma vida de ator para mim’ (1996), um pastel sobre papel montado em alumínio de 170x150cm, que terá sido arrematado por 400 mil euros”, indicou a leiloeira à Lusa.

A série de pastéis pintados por Paula Rego sobre o conto do Capuchinho Vermelho escrito no século XVII, a partir de recolhas orais de Charles Perrault e, no século XIX, pelos irmãos Grimm, reúne seis momentos da história.

‘Happy Family: Mother, Red Riding Hood and Grandmother’ (‘Família Feliz: Mãe, Capuchinho Vermelho e Avó’), ‘Little Red Riding Hood on the Edge’ (‘Capuchinho Vermelho no limite’), ‘The Wolf’ (‘O Lobo’), ‘The Wolf Chats Up Red Riding Hood’ (‘O Lobo à conversa com Capuchinho Vermelho’), ‘Mother Takes Revenge’ (‘A Mãe a vingar-se’) e, por fim, este pastel em que a mãe veste a pele do lobo, ‘Mother wears the wolf’s pelt’.

O conto tradicional narra a aventura de uma menina que é levada por um lobo a revelar o caminho para casa da avó, na floresta, onde chega antes dela, e o pior acontece.

No quadro com dimensões de 84 por 67 centímetros, a mãe surge sentada, vestida de forma elegante com um vestido de veludo vermelho, numa cadeira giratória do tipo escritório, e usa um chapéu e uma estola de pele, cuja ponta felpuda segura com uma das mãos.

A outra mão da mãe “paira de forma protetora – sugestivamente – sobre a sua barriga”, descreve, num ensaio sobre a obra, a curadora britânica Fiona Bradley.

Nesta série, Paula Rego – que ao longo do percurso artístico se interessou pelos contos infantis como fonte de inspiração – aproveitou a história para explorar vários aspetos do poder feminino, a rivalidade entre mãe e filha, o despertar sexual e a maioridade.

Originalmente, o conto servia de advertência, alertando para o cuidado com estranhos. Na versão dos Irmãos Grimm, Capuchinho Vermelho e a sua avó sobrevivem, retirados da barriga do lobo por um caçador que lhe queria a pele.

‘Mother wears the wolf’s pelt’ foi exibida nas exposições ‘Paula Rego’, antológica apresentada no Museu de Serralves, no Porto (2004-2005), na ‘Family Sayings’, no La Virreina Centre de la Imatge, em Barcelona (2017), na ‘All the Better to See You With: Fairy Tales Transformed’, no The Ian Potter Museum of Art, em Melbourne (2017-2018), e em ‘Paula Rego: Folktales and Fairy Tales’, na Casa das Histórias, Cascais (2018), refere o catálogo.

Nascida em Lisboa, Paula Rego começou a desenhar ainda em criança e, com 17 anos, a conselho do pai, foi estudar para a Slade School of Fine Arts, em Londres, cidade onde viria a fixar residência.

Distinguiu-se pela singularidade da obra, inspirada na literatura e nas experiências pessoais, e marcada, ao longo de décadas, pela defesa dos direitos das mulheres, em séries sobre a opressão e repressão feminina, como a dedicada ao aborto.

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