Apesar das praias de sonho os empresários do setor ouvidos pela Lusa em várias partes da ilha admitem que não conseguem competir com a vizinha ilha de Bali, com preços mais acessíveis e melhores infraestruturas, e defendem que o país deve apostar no turismo de aventura e da natureza. Nem eles nem o Governo querem um turismo massificado, como o que “entope” a indonésia Bali.

 

“Apostamos num turismo comunitário, natural, verde, um turismo também de lazer, de desporto e de passeio”, diz à Lusa, em Dili, Virgílio Simith, presidente da Autoridade de Turismo de Timor-Leste. E das serras de Ainaro Jaimito de Araújo pede turismo de aventura, do planalto de Maliana o hoteleiro Kiera aposta no turismo ecológico, e da ilha de Atauro o administrador Mateus Belo diz: “muito turista descontrola o ambiente”.

Na rota do turismo timorense a oferta é escassa ainda quando se sai de Dili. Em Baucau, segunda cidade, pontifica a pousada, 16 quartos num edifício em tons ocre renovado onde trabalham 35 pessoas, como explica Dirce Freitas, da direção de controlo e gestão.

Mais para leste, quando começam as estradas esburacadas surgem as melhores praias e o turismo comunitário. Como o de Ângelo da Silva, com 24 quartos e ao qual pôs o nome de Kati Ratu, o nome da casa sagrada da aldeia (todas têm uma casa sagrada), mas que acabou por ficar “Guest House Kati”.

Fica na localidade de Com, onde Ângelo da Silva vive desde pequeno, quando a sua família foi para ali levada por militares indonésios acusada de dar apoio ao então guerrilheiro Xanana Gusmão. E na verdade dava.

Começou com dois quartos, teve algum apoio do Governo. A “Kati” só tem três quartos com ar condicionado e casa de banho mas vale pela localização, mesmo junto à praia. Chegam-lhe turistas da Austrália, de Portugal, da China ou do Japão até, especialmente de setembro a fevereiro.

O responsável queixa-se das estradas, da falta de luz constante. Mas também fala da “capacitação na área da hospitalidade”. “Às vezes somos confrontados com queixas de falta de higiene”.

E que tipo de turismo para Timor? “Depende do Governo, eles têm de vir aos sítios e orientar, sentimo-nos isolados”. Para já quem chega são alguns turistas, marcaram pelo Facebook, chegam dececionados com as estradas, pagam 25 dólares por um quarto de bambu e zinco com vista para o mar de Timor e o som dos galos que cantam a todas as horas, exceto os que estão a ser usados pela tarde em lutas discretas que acabam quando os turistas se aproximam.

Na casa trabalham cinco pessoas. Rosa Moreira Rato, com um turismo idêntico emprega três raparigas. Os turistas, conta, vão à praia, compram produtos locais, visitam a casa que no mato abrigou Xanana Gusmão. E Sérgio José Cristóvão, chefe da aldeia: “estamos a mobilizar a comunidade para a importância de preservar a paisagem”.

Preservar a paisagem é uma constante nos discursos, ainda que locais como a ilha de Jaco, com as melhores praias, na ponta leste, sejam preservados naturalmente, pela falta de acessibilidades.

Mas em Aileu, a sul de Dili e com boas estradas, o discurso não muda. Hugo Trindade, agrónomo, trabalha na “Quinta Portugal”, onde se produz e se faz investigação sobre o café. A mais de mil metros, uma zona fresca e arborizada é um bom “spot” para um turismo especializado e Hugo Trindade acredita no potencial.

Na fazenda de Tomás Mendonça, quase ao lado da Quinta, Marquita Seixas apoia os agricultores a cuidar do café. “É importante promover o café de Timor-Leste”, diz numa plantação que está a ser preparada para ser “transitável”, para receber turistas.

A duas horas dali, em Ainaro, no meio da ilha, entre montanhas, Jaimito de Araujo, um responsável da localidade de Mantasi, fala também da potencialidade do turismo de aventura, “de natureza, passeios de montanha”.

E de Atauro, a ilha que fica em frente de Díli, o administrador Mateus Belo “oferece” a “bela praia de Acrema”, a biodiversidade, o turismo de mar, o mergulho.

Ainda a recuperar na quebra provocada pela covid-19, diz que Atauro precisa de ecoturismo e avisa que “turismo sim mas controlado, que preserve a natureza”. Porque a ilha só se conserva bonita controlando pessoas e recursos.

De volta a Timor, mais perto da fronteira, o empreendimento Natarrohan também fechou devido à pandemia mas Kiera, o dono, está agora a investir tudo no turismo ecológico, acrescentando oito quartos aos quatro que já tinha, todos feitos em teca e outros materiais locais.

“Temos tantos recursos como os outros para fazer casas de qualidade”, diz, mostrando com orgulho alguns materiais reciclados que também usa. Aqui temos recursos, “o maior desafio é ganhar empatia no trabalho”.

Maliana é sempre verde e em Natarrohan, por 40 dólares por noite, comem-se produtos locais, com vista para os arrozais e com os sons da natureza. Galos incluídos, que como os de Com, cantam a todas as horas.

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