A dirigente do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, reitera que a crise no Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) “não é um problema de comunicação”. Aponta que este é “um problema de incompetência de uma equipa ministerial mas é também um problema de permeabilidade nessa equipa ministerial de interesses privados e corporativos particulares“.

 

Mariana Mortágua concretizou a acusação, afirmando que o plano de emergência para a saúde do executivo foi elaborado pelo antigo secretário de Estado do XX Governo Constitucional, liderado por Pedro Passos Coelho, Eurico Castro Alves, que “lidera a lista que ganhou a Ordem dos Médicos a norte”.

Dessa lista da Ordem dos Médicos a norte saiu o próprio Eurico Castro Alves, que é o autor do programa de emergência nomeado pela ministra, saiu a secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, o CEO do SNS, António Gandra de Almeida, e sai ainda o presidente do grupo que vai organizar as urgências obstétricas, Caldas Afonso“, enumerou.

A dirigente bloquista acrescentou ainda que a secretária de Estado da Saúde e a ministra “já tinham prestado serviços no passado para a empresa privada de consultoria de Eurico Castro Alves”.

“Eurico Castro Alves, que é a mesma pessoa que está envolvida no lançamento de uma seguradora privada que pretende ser uma das maiores seguradoras privadas do país. Que é acionista do Lapa Care, uma empresa que gere um hospital privado a Norte. Que está nos corpos sociais da Misericórdia do Porto, que é a misericórdia que recebeu 65 milhões pela gestão do Hospital da Prelada para ficar com serviços que o Estado não faz, num inovador centro de atendimento clínico e, portanto, o Estado está a pagar 65 milhões à Prelada da Misericórdia do Porto para fazer casos menos graves e nos órgãos sociais da misericórdia está Eurico Castro Alves”, salientou.

Mariana Mortágua afirmou, esta quarta-feira, em declarações aos jornalistas, que “a ministra no verão fez colapsar as urgências hospitalares, no outono fez colapsar o INEM e no inverno não podemos esperar outra coisa a não ser que faça colapsar o SNS e a sua capacidade de resposta”. 

A dirigente do Bloco de Esquerda acusou ainda Ana Paula Martins de “prepotência e arrogância”.

Estamos a falar de uma ministra que sempre que alguma coisa corre mal, diz que a culpa é de uma administração hospitalar, de um presidente de uma instituição ou da própria secretária de Estado. E que é incapaz de assumir responsabilidades que vão acontecendo em diversas áreas. Eu penso que a atuação da ministra está a assumir proporções que nos devem levar a refletir sobre a política do Governo, sobre quem toma estas decisões e sobre toda a equipa que está a gerir o destino do SNS”, insistiu.

Mariana Mortágua garante que a ministra da Saúde “sabia desde o momento em que é enviado um pré-aviso de greve que qualquer greve às horas extraordinárias do INEM poderia comprometer o serviço, com ou sem serviços mínimos. Porque o INEM já não tem, já não garante serviços mínimos nos dias normais, porque tem metade dos trabalhadores que devia ter e todos eles a fazer horas extraordinárias porque é assim que é mantido o INEM há muitos anos”

Relembre-se que o Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar (STEPH) esclareceu, hoje, que o INEM não designou quem deveria cumprir os serviços mínimos, que no pré-aviso estavam propostos apenas para o turno da noite.

O presidente do STEPH, Rui Lázaro, afirmou que “o INEM apenas enviou um ‘e-mail’ já durante a greve, três minutos antes do turno começar, e não designou os trabalhadores”.

A ministra da Saúde esteve reunida, esta terça-feira, com os responsáveis do instituto e revelou que “o INEM passou a estar debaixo da minha dependência direta desde há dois dias porque é uma matéria de uma prioridade enorme como se está a ver”. 

Os alegados atrasos ou falhas no socorro por parte do INEM já terão resultado em 11 mortes nas últimas semanas e motivaram até ao momento sete inquéritos no MP, um dos quais já arquivado. Há ainda um inquérito em curso da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).

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