De acordo com a publicação especializada Pitchfork, que cita fonte do estúdio Electric Audio, do músico e produtor, Steve Albini morreu de ataque cardíaco.

Os Shellac tinham concerto marcado em Portugal em 08 de junho, no festival Primavera Sound do Porto, onde já atuaram 11 vezes e eram uma espécie de banda residente.

O jornal The Guardian, num artigo publicado hoje, a propósito de “To all trains”, o novo álbum dos Shellac, que não editavam nada há dez anos, refere-se a Steve Albini como “vocalista, guitarrista, produtor, provocador e defensor ferrenho da expressão independente”, bem como “um dos nomes definidores do ‘underground’ musical norte-americano — e, ocasionalmente, do ‘overground’”.

Steve Albini, que preferia ser chamado engenheiro de som em vez de produtor, nasceu em 22 de julho de 1962, em Pasadena, no estado norte-americano da Califórnia, e tornou-se no responsável pela gravação de inúmeros discos que marcaram várias gerações das últimas décadas.

Na adolescência, descobriu os Ramones e mais tarde, quando estudava numa faculdade no Illinois, envolveu-se na cena ‘punk’ de Chicago.

Em 1982 editava o EP “Lungs”, como Big Black, projeto a solo que acabaria por tornar-se mais tarde numa banda, que terminaria a carreira em 1987.

Pouco depois, Albini daria início a um percurso como produtor e engenheiro de som, trabalhando com bandas e artistas como Nirvana, The Breeders, Pixies, Superchunk, Bush, The Jesus Lizard, Jon Spencer Blues Explosion, Low, Mogwai, Cloud Nothings, Godspeed You! Black Emperor, Ty Segall, além de centenas de outros desconhecidos do grande público.

Nesse caminho, abriria, no final dos anos 1990, o seu próprio estúdio de gravação, o Electrical Audio, em Chicago.

A revista Variety recorda que foi “a postura por vezes iconoclasta” de Steve Albini, “e o seu trabalho galvanizador no álbum ‘Surfer Rosa’ dos Pixies”, que levaram a que Kurt Cobain insistisse para que os Nirvana trabalhassem com ele no sucessor de “Nevermind”.

Na mesma altura de “In Utero”, Albini gravou “Rid of Me”, de PJ Harvey.

Numa carta que escreveu à banda de Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl antes de gravar “In Utero”, Albini afirmou: “Só estou interessado em trabalhar em álbuns que legitimamente refletem a perceção da própria banda da sua música e existência. Se vocês se empenharem nisso como um mote da metodologia de gravação, então vou dar tudo por vocês”.

“Gostava de ser pago como um canalizar: faço o trabalho e pagam-me aquilo que ele vale. A editora terá como expectativa que eu peça 1% ou 1,5%. Se presumirmos três milhões em vendas, isso dá cerca de 400 mil dólares. Nem pensar que eu alguma vez aceitaria tanto dinheiro. Não conseguiria dormir”, acrescentou o músico.

Num texto escrito para a revista The Baffler, em 1993, com o título “O Problema com a Música”, Steve Albini declarou que, sempre que falava com uma banda prestes a assinar por uma editora grande, pensava neles num determinado contexto: “Imagino uma trincheira, com um metro de largura e um metro e meio de profundidade, talvez com 55 metros de comprimento, cheia de fezes a apodrecer. Imagino estas pessoas, algumas delas boas amigas, outras conhecidas, numa ponta da trincheira. Também imagino um lacaio sem rosto da indústria na outra ponta, a segurar uma caneta e um contrato à espera de ser assinado”.

Steve Albini integrou também o trio Rapeman, cuja carreira durou dois anos, entre 1987 e 1989, e em 1992 formava os Shellac.

Em 2020, editava a sua primeira e única banda sonora, do filme “Girl on the third floor”, de Mark Deming, criada em colaboração com a violoncelista Alison Chesley e o baixista/guitarrista Tim Midyett.

Formado em jornalismo, Steve Albini contribuiu para várias ‘fanzines’, como a Force Exposure e a Matter.

Na última mensagem que publicou na rede social BlueSky, para onde se mudou depois de deixar o Twitter, pode ler-se: “Desde o princípio, o perigo não é [o antigo presidente dos EUA, Donald] Trump. Ele é constitucionalmente preguiçoso, ignorante, sem ambição e, em regra, não muito bom a fazer coisas. O perigo vem das pessoas supostamente na oposição a não fazer nada para parar o resto dos seus seguidores, categoricamente mais maléficos, ambiciosos e capazes do que ele”.

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