Uma versão feita com inteligência artificial (IA) de uma das obras mais ilustres da História da pintura, a “Rapariga com brinco de pérola”, de Johannes Vermeer, gerou polémica, na sexta-feira, após ter sido exposta num museu nos Países Baixos.
À primeira vista, chamaram à atenção a luminosidade característica do quadro original e o olhar marcante da jovem, mas, olhando de perto, detalhes estranhos começaram a surgir. A jovem não usa apenas um brinco, mas dois, um em cada orelha, e tem sardas num tom avermelhado pouco natural.
A versão é obra de inteligência artificial (IA) e faz parte de uma exposição no museu Mauritshuis de Haia, que reúne reproduções de admiradores da “Rapariga com brinco de pérola”, de Vermeer, atualmente emprestado ao Rijksmuseum de Amsterdão para uma retrospetiva em homenagem ao pintor holandês.
A decisão de expor a versão em IA gerou polémica. Houve quem questionasse se a IA deveria ter espaço num museu como o Mauritshuis, que expõe obras clássicas de Vermeer e Rembrandt.
“É um tema controverso. Por isso, as pessoas são contra ou a favor”, afirma Boris de Munnick, assessor de imprensa do Mauritshuis. “As pessoas que selecionaram a obra sabiam que era IA. Mas gostámos da criação, por isso escolhemo-la”.
Julian van Dieken, criador digital radicado em Berlim, fez a imagem para o concurso organizado pelo museu Mauritshuis, que convidou as pessoas a enviarem a sua versão do quadro famoso. Os participantes do concurso, com idades entre 3 e 94 anos, usaram todo o tipo de ferramentas e objeto,s como lápis, tinta, tecidos e até mesmo saladas e flores, nas suas criações. Van Dieken usou a ferramenta de IA Midjourney, capaz de produzir imagens complexas com milhões de imagens da internet e do Photoshop.
A artista neerlandesa Iris Compiet escreveu, no Instagram, que esta versão era “uma vergonha e um insulto”. “É um insulto ao legado de Vermeer e a qualquer artista em atividade. Vindo de um museu, é um verdadeiro estalo na cara”, criticou Compiet, em declarações à AFP.
Trata-se de uma “tecnologia pouco ética”, avaliou, por sua vez, a artista Eva Toorent, que trabalha na regulamentação da IA. “Sem o trabalho de artistas humanos, este programa não poderia simplesmente produzir obras”, destacou, em declarações ao jornal neerlandês “De Volkskrant”.
“O que é arte e o que não é? É uma pergunta difícil”, ressaltou Boris de Munnick, rematando dizendo que o museu Mauritshuis nunca pretendeu abrir o debate deliberadamente.