Um republicano eleito nas intercalares de novembro para o Congresso dos Estados Unidos admitiu que mentiu amplamente no seu currículo, situação anteriormente denunciada pelo jornal “New York Times” e que tem gerado múltiplos pedidos de renúncia na oposição.
Eleito pelo 3.º distrito do estado norte-americano de Nova Iorque, George Santos confessou em duas entrevistas diferentes ter “embelezado o seu currículo”, noticiou a agência France-Presse (AFP).
George Santos admitiu nunca ter trabalhado nos prestigiados bancos Goldman Sachs ou Citigroup, nem possuir um diploma universitário, ao contrário do que afirmava.
O filho de imigrantes brasileiros nascido em Queens, Nova Iorque, descartou categoricamente, no entanto, a ideia de renunciar ao cargo que ocupará a partir de 3 de janeiro na Câmara dos Representantes, sublinhando ao jornal “New York Post” que não é “um criminoso”.
As mentiras sobre vários dados que constavam no seu currículo tinham sido reveladas por uma investigação do “New York Times”, publicada em meados de dezembro.
Nessa investigação, o jornal revelou que o filho de imigrantes brasileiros e candidato abertamente homossexual mentiu em vários pontos que referiu no seu currículo, como a obtenção de um diploma em finanças no Baruch College, em Nova Iorque em 2010, e passagens pelo Citigroup Bank ou Goldman Sachs Investment Bank.
Porta-vozes destas três entidades garantiram ao “New York Times” que não encontraram qualquer registo do novo eleito.
O Baruch College confirmou à AFP que não encontrou nos seus arquivos nenhum aluno chamado George Santos por volta do ano de 2010.
O diário nova-iorquino põe ainda em dúvida o funcionamento de uma associação de proteção animal, a “Friends of United Animals”, criada pelo ex-candidato, e considera que a sua empresa de consultoria financeira, a “Devolder Organization”, “é uma espécie de mistério”.
Na declaração de contas à Câmara dos Representantes, apresentada em setembro, George Santos garantiu que a empresa lhe pagou um salário de 750 mil dólares (706,8 mil dólares) e dividendos entre um milhão e cinco milhões de dólares (940 mil e 4,7 milhões de euros).
Mas, observa o NYT, o formulário não incluía “qualquer informação sobre clientes que possam ter contribuído para tais despojos, uma aparente violação da exigência de divulgar qualquer compensação acima de 5000 dólares (4710 mil euros) de uma única fonte”.
Em entrevista à Lusa a poucos dias de ser eleito, George Santos afirmou que foi atrás “de uma educação boa” que os Estados Unidos lhe proporcionaram, avaliando que conseguiu construir “uma carreira respeitável” no ramo financeiro, procurando agora dedicar-se ao serviço publico.
Um fiel apoiante do ex-presidente Donald Trump, George Santos posicionou-se como tudo menos um candidato republicano convencional: jovem (34 anos), descendente de imigrantes nascido no seio de “uma família pobre” no bairro de Queens e homossexual. Contudo, rejeitou rótulos, porque não “fariam diminuir os impostos dos eleitores”.
Vários membros do Partido Democrata pediram ao líder da oposição republicana, Kevin McCarthy, que convoque uma votação para derrubar Santos, se este não renunciar por conta própria.
“O Comité de Ética da Câmara dos Representantes deve investigar como [George Santos] ganhou o seu dinheiro”, insistiu também Ritchie Torres, outro eleito por Nova Iorque.
O Estado de Nova Iorque, considerado pró-democrata, viu vários lugares na Câmara dos Representantes mudarem para o lado republicano, permitindo a este partido conquistar uma estreita maioria na câmara baixa do Congresso. Os democratas mantiveram a maioria no Senado.