Mais de 40 organizações de defesa dos direitos humanos denunciaram esta segunda-feira a repressão no Irão contra as manifestações que prosseguem após a morte, há um mês, de Mahsa Amini, e apelaram à ONU para promover um inquérito urgente.
Diversas organizações não-governamentais internacionais (ONG), incluindo a Amnistia Internacional (AI) e a Human Rights Watch (HRW), e grupos iranianos sediados no estrangeiro, onde se incluem o Iran Human Rights (IHR, em Oslo), Hengaw (Noruega) e o Centro para os Direitos Humanos no Irão (CHRI, Nova Iorque), incluem-se entre os signatários do apelo.
As ONG exprimem “vivas preocupações” face “à máquina de repressão enviada pelas autoridades iranianas para punir” o movimento de contestação.
Em paralelo, o Comité das Nações Unidas para os Direitos da Criança exortou hoje as autoridades iranianas a “porem termo a toda a violência” contra menores, após pelo menos 23 adolescentes terem sido mortos e centenas feridos, detidos ou torturados.
As manifestações foram desencadeadas em 16 de setembro pela morte num hospital de Teerão de Masha Amini, uma curda de 23 anos, detida três dias antes pela polícia da moralidade em Teerão por ter infringido o estrito código sobre o uso de vestuário feminino previsto nas leis da República islâmica, em particular o uso do véu.
Diversos militantes da oposição afirmaram que foi ferida na cabeça durante a sua detenção. As autoridades iranianas desmentiram qualquer contacto físico entre a polícia e a jovem mulher, com o relatório médico a concluir que a sua morte se deveu a “sequelas de uma doença”.
Segundo a ONG IHR, 122 pessoas foram mortas na repressão das manifestações.
As ONG signatárias afirmam possuir provas de que as forças de segurança iranianas “recorreram ao uso deliberado de balas reais e esferas de chumbo contra os manifestantes, incluindo crianças”.
Na passada sexta-feira, a AI lamentou a morte de pelo menos 23 crianças “mortas pelas forças de segurança iranianas”.
As organizações apelaram ao Conselho de Direitos Humanos da ONU a “agir com urgência e promover uma sessão extraordinária e (…) estabelecer um mecanismo independente de inquérito” para “abordar os crimes mais graves face ao direito internacional e outras violações dos direitos humanos”.
“Sem uma ação coletiva por parte da comunidade internacional (…), numerosos homens, mulheres e crianças arriscam-se a serem mortos, torturados ou detidos enquanto as provas que revelem crimes graves poderão desaparecer”, referem as ONG.
Em Genebra, Rolando Gomez, um porta-voz do Conselho de Direitos Humanos, indicou não ter recebido “um pedido específico para realizar uma sessão extraordinária sobre o Irão”.
Ainda em Genebra, o Comité das Nações Unidas para os Direitos da Criança condenou em comunicado “as graves violações dos direitos das crianças que estão a ser perpetrados no Irão” durante as manifestações.
Segundo os relatos recebidos, algumas das famílias dos jovens foram pressionadas para declarar em falsas confissões que estes assassinatos foram antes suicídios das vítimas, denunciou o organismo das Nações Unidas, que também recebeu informações de menores detidos e em certas ocasiões torturados em centros educativos.
“As graves violações dos direitos das crianças no Irão devem ser profusamente investigadas por autoridades competentes, independentes e imparciais, e os seus responsáveis devem prestar contas”, concluiu o Comité.