O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou, esta terça-feira, para a “dissimulação tóxica” das empresas e investidores que fazem promessas “falsas” de neutralidade de carbono, enquanto continuam explorar massivamente combustíveis fósseis, a contribuir para a desflorestação e a aumentar emissões de gases com efeito de estufa. Todas estas atividades responsáveis pelo aquecimento global.
“Esta tentativa de dissimulação tóxica pode empurrar o nosso mundo para o precipício climático. A farsa tem de acabar”, insistiu Guterres, saudando o relatório do grupo de especialistas em neutralidade carbónica que lhe foi entregue na 27.ª Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP27), a decorrer no Egito.
O secretário-geral da ONU sublinhou que deve haver “tolerância zero” para planos baseados em “lavagem verde” (greenwashing), pedindo que tanto as empresas, bem como as cidades e as regiões de todo o mundo atualizem as suas contribuições voluntária de emissões dentro de um ano, “o mais tardar até à COP28”. Guterres insiste: só assim será possível “reduzir 45% das emissões de gases com efeito de estuda” e “limitar a temperatura média da Terra a 1,5ºC”, objetivo definido no Acordo de Paris, em 2015.
Segundo o estudo, as promessas de neutralidade carbónica, até 2050, das empresas e dos investidores são “incompatíveis” com novos investimentos nas energias fósseis.” Do mesmo modo, a desflorestação e outras atividades que destroem o ambiente desacreditam” aquelas promessas, considerou o grupo criado pelo secretário-geral das Nações Unidas.
Atualmente, cerca de 90% da economia mundial está coberta por algum tipo de promessa de neutralidade carbónica, segundo o Net Zero Tracker. Contra a “lavagem verde” de atores privados que fazem promessas no ar de neutralidade carbónica, os especialistas dizem ser necessário acabar com o investimento em combustíveis fósseis, com a “compensação” acessível das emissões de gases com efeito de estufa e com a desflorestação.
Os 18 especialistas elaboraram em poucos meses um guia para avaliar o grau de credibilidade dos atores não estatais que se comprometem com a neutralidade carbónica. Afastar-se de “atividades ambientalmente destrutivas” é condição chave para a credibilidade.
O relatório considera ainda que as promessas a longo prazo devem ser acompanhadas de um plano preciso, com objetivos para cada período de cinco anos.
O secretário-geral da ONU pediu ainda aos governos para “criarem um quadro regulamentar” que contemple as recomendações dos especialistas e que os os planos para uma transição energética justa, baseada no investimento em fontes de energia renováveis, tenham em conta as necessidades dos trabalhadores destas empresas.
Até o próximo dia 18, decorre em Sharm el-Sheikh, no Egito, a 27.ª cimeira da ONU sobre alterações climáticas, para tentar travar o aquecimento do planeta, limitando o aquecimento global a 2ºC (graus celsius), e se possível a 1,5ºC, acima dos valores médios da época pré-industrial.