O Departamento de Justiça dos EUA emitiu secretamente uma intimação para obter acesso ao telemóvel de um jornalista do jornal de referência britânico “The Guardian” que estava a investigar a política de separação de crianças migrantes na fronteira sul, levada a cabo pela Administração Trump.
O departamento do governo norte-americano responsável pela aplicação da lei e pela administração da justiça (equivalente ao Ministério da Justiça, em Portugal) emitiu a intimação para obter os registos telefónicos de Stephanie Kirchgaessner, correspondente do “The Guardian” em Washington.
A ação, conduzida pelo gabinete do inspetor-geral do Departamento de Justiça, Michael Horowitz, foi realizada sem notificar o jornal nem o repórter, como parte de uma tentativa de descobrir as fontes de artigos escritos sobre a separação de famílias requerentes de asilo nos Estados Unidos. Isto perante suspeitas de que terá sido um funcionário do próprio gabinete a vazar informações confidenciais para três meios de comunicação – o “The New York Times”, a NBC News e o “The Guardian”, o único a ser alvo de uma intimação.
“Exemplo flagrante de violação à liberdade de imprensa”
De acordo com o jornal visado, é “altamente incomum” que funcionários do governo dos EUA obtenham detalhes sobre o telefone de um jornalista através desta via, especialmente quando não estão envolvidas questões confidenciais ou sobre segurança nacional. A surpresa da medida aumenta tendo em conta que veio do responsável pela supervisão ética e proteção de denunciantes.
Katharine Viner, editora-chefe do Guardian, denunciou a ação como “um exemplo flagrante de violação à liberdade de imprensa e ao jornalismo de interesse público pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos”.
“Vamos pedir urgentemente ao Departamento de Justiça uma explicação de porquê e como é que isto pode ter acontecido, exigindo um pedido de desculpas. Também procuraremos garantias de que as informações sobre o nosso repórter serão apagados dos sistemas e não serão usadas para outras violações da liberdade de imprensa”, acrescentou.